02 dezembro 2013

O Recife e as mudanças climáticas

Eu vi o mundo...

Cida Pedrosa*

Viajamos muitas horas. Dentre embarques, desembarques, três voos e um fuso horário de quatro horas a mais, foram mais de vinte horas até chegarmos a Varsóvia, na Polônia, onde já acontecia, há vários dias, a 19ª COP – Conferência das Partes. Capitaneada pela Organização das Nações Unidas, a Conferência discutia a implementação do Protocolo de Quioto – instrumento de acompanhamento da política mundial para reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e para o enfrentamento das Mudanças Climáticas.

Fomos, em viagem oficial, para que Geraldo Julio, prefeito do Recife, participasse de três eventos. Uma maratona. Um único dia na cidade. Pela manhã, o prefeito compôs uma mesa histórica, já que, pela primeira vez, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, sentou-se com autoridades locais para discutir o futuro do planeta. A participação das cidades na construção e execução dessas políticas é muito recente, tema antes afeto apenas às nações.

Geraldo, único representante do Brasil nessa mesa, fez um pronunciamento defendendo um maior poder aos municípios e conclamando seus pares a se envolverem nessa luta. Afinal, as pessoas moram nas cidades e as transformações sociais e culturais, bem como a construção de espaços urbanos mais sustentáveis, estão na esfera da municipalidade. Ele lembrou que é preciso o comprometimento das nações com tecnologias e financiamentos para planos de ação e estabelecimento de metas ambiciosas de redução dos GEE em todos os grandes centros urbanos. Foi um momento único. Rompemos as fronteiras do Nordeste brasileiro e nos irmanamos aos povos do mundo.

O Recife é uma cidade nascida das águas. Mar, rios e veios d’água se espraiam em seu território. A cidade cresceu de forma desordenada e sem respeitar o seu mapa ambiental. O prejuízo é enorme. O Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima (IPCC) nos coloca entre as 20 cidades do mundo mais vulneráveis às ações das udanças Climáticas. Temos que nos antecipar e traçar metas ousadas. E é o que estamos fazendo.

Firmamos um convênio com o Iclei – organismo ligado à ONU – para realizarmos o Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Recife; criamos o Comitê de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (ConClima), espaço de discussão interinstitucional com a participação da sociedade civil; estamos concluindo dois projetos de Lei a serem enviados à Câmara. Um estabelece a Política Municipal de Sustentabilidade e de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. O outro cria o Sistema Municipal de Unidades Protegidas.

Fechamos também uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco para desenvolver o projeto Parque Linear do Cabiparibe, que prevê a reurbanização das duas margens do rio, desde a Várzea até o Centro. É um caminho para pedestres e ciclistas. O Caminho das Capivaras. Temos um programa de plantio e um Manual de Arborização Urbana. Contratamos um plano de drenagem e um plano de gerenciamento de resíduos sólidos. Fortalecemos o Conselho Municipal de Meio Ambiente e publicamos edital para projetos da sociedade civil.

É assim que entendemos: as cidades têm que cuidar do seu patrimônio ambiental e foi isso que fomos dizer na Polônia. Somos parte de um mesmo elo. A ação começa em sua aldeia. Todos são responsáveis. Poderes públicos nas suas várias esferas e a população. Infelizmente, as nações ainda não compreenderam o papel fundamental das cidades nessa luta. De Varsóvia, eu vi o mundo e ele começava no Recife.*
Cida Pedrosa é secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura do Recife

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