Cida Pedrosa*
Viajamos muitas horas. Dentre embarques, desembarques, três voos e um fuso horário de quatro
horas a mais, foram mais de vinte horas até chegarmos a Varsóvia, na Polônia,
onde já acontecia, há vários dias, a 19ª COP – Conferência das Partes.
Capitaneada pela Organização das Nações Unidas, a Conferência discutia a
implementação do Protocolo de Quioto – instrumento de acompanhamento da
política mundial para reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e para
o enfrentamento das Mudanças Climáticas.
Fomos, em
viagem oficial, para que Geraldo Julio, prefeito do Recife, participasse de
três eventos. Uma maratona. Um único dia na cidade. Pela manhã, o prefeito
compôs uma mesa histórica, já que, pela primeira vez, o secretário geral da
ONU, Ban Ki-moon, sentou-se com autoridades locais para discutir o futuro do
planeta. A participação das cidades na construção e execução dessas políticas é
muito recente, tema antes afeto apenas às nações.
Geraldo,
único representante do Brasil nessa mesa, fez um pronunciamento defendendo um
maior poder aos municípios e conclamando seus pares a se envolverem nessa luta.
Afinal, as pessoas moram nas cidades e as transformações sociais e culturais,
bem como a construção de espaços urbanos mais sustentáveis, estão na esfera da
municipalidade. Ele lembrou que é preciso o comprometimento das nações com
tecnologias e financiamentos para planos de ação e estabelecimento de metas
ambiciosas de redução dos GEE em todos os grandes centros urbanos. Foi um
momento único. Rompemos as fronteiras do Nordeste brasileiro e nos irmanamos
aos povos do mundo.
O Recife é
uma cidade nascida das águas. Mar, rios e veios d’água se espraiam em seu
território. A cidade cresceu de forma desordenada e sem respeitar o seu mapa
ambiental. O prejuízo é enorme. O Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima
(IPCC) nos coloca entre as 20 cidades do mundo mais vulneráveis às ações das udanças
Climáticas. Temos que nos antecipar e traçar metas ousadas. E é o que estamos
fazendo.
Firmamos um
convênio com o Iclei – organismo ligado à ONU – para realizarmos o Inventário
das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Recife; criamos o Comitê de
Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (ConClima), espaço de discussão
interinstitucional com a participação da sociedade civil; estamos concluindo
dois projetos de Lei a serem enviados à Câmara. Um estabelece a Política
Municipal de Sustentabilidade e de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. O
outro cria o Sistema Municipal de Unidades Protegidas.
Fechamos
também uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco para desenvolver o
projeto Parque Linear do Cabiparibe, que prevê a reurbanização das duas margens
do rio, desde a Várzea até o Centro. É um caminho para pedestres e ciclistas. O
Caminho das Capivaras. Temos um programa de plantio e um Manual de Arborização
Urbana. Contratamos um plano de drenagem e um plano de gerenciamento de
resíduos sólidos. Fortalecemos o Conselho Municipal de Meio Ambiente e
publicamos edital para projetos da sociedade civil.
É assim que
entendemos: as cidades têm que cuidar do seu patrimônio ambiental e foi isso
que fomos dizer na Polônia. Somos parte de um mesmo elo. A ação começa em sua
aldeia. Todos são responsáveis. Poderes públicos nas suas várias esferas e a
população. Infelizmente, as nações ainda não compreenderam o papel fundamental
das cidades nessa luta. De Varsóvia, eu vi o mundo e ele começava no Recife.*
Cida Pedrosa é secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura do Recife
Cida Pedrosa é secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura do Recife
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