02 abril 2014

Dois marcos históricos

Os 50 anos do Golpe Militar e os 90 anos da Coluna Prestes
Ana Maria Prestes

Por algum motivo, as datas redondas nos ajudam nas reflexões. Fazem-nos vislumbrar a história em perspectiva, com alguma noção de onde estamos em relação a onde já estivemos na linha de desenvolvimento das sociedades humanas.


Em 2014, no Brasil, lembram-se os 50 anos do acontecimento do Golpe Militar de 1964 e os 90 anos do início da Coluna Prestes. Ambos movimentos liderados por militares brasileiros, mas com perspectivas antagônicas.

A diferença brutal entre a ação militar insurgente do início do século e a da década de 60 está muito bem representada na música, na poesia e na literatura brasileira.

Sobre a Coluna Prestes, diz o cordel:

“Nos anos vinte o que muito se via
era a Coluna Prestes pelo Brasil
combater retrógradas oligarquias
deitadas no berço explêndido varoníl

Combatendo tantos tipos de esquemas
a Coluna nas cidades, zonas rurais
denunciava os anacrônicos sistemas
e pregava reformas políticas, sociais

Quem quiser ter noção do incrível
basta pesquisar o que aconteceu
A Coluna Prestes foi imbatível
nem de longe uma batalha perdeu

E se não derrubou os governantes
da República Velha desse Brasil
deixou marcas profundas, marcantes
conscientizando a sociedade civil”

(Jetro Fagundes) **

Já sobre o Golpe de 64, diz outro cordel:

“A revolução
redentora

Dos milicos do
Brasil

Não aconteceu em
março

E não foi nada
varonil

Tendo como data
histórica

Um primeiro de abril


Temendo uma
revolução

De caráter comunista

Uma gente bem
fardada

E totalmente
entreguista

Botando tropas na
rua

Passou o país em
revista


E depois o que se
viu

Foi uma triste
aventura

Em que a vida
democrática

Sob os ferros da
tortura

Conheceu de perto a
dor

Que brotou da
ditadura


E foi assim desse jeito

Com tanta proibição

E muita gente sumida

Sob brutal repressão

Que um golpe militar

Se chamou revolução


E foi proibido
pensar

Pensamento diferente

Do que pensavam as
fardas

De um general ou
tenente

Que criaram no país

Situação tão
deprimente”

(Silvio Prado) ***

Para além do fato de serem oriundos das forças armadas, em quase tudo contrasta a diferença entre os líderes da Coluna (1924) e os líderes do Golpe (1964):

Os primeiros eram jovens de espírito libertário, os segundos eram senhores conservadores.

Os combatentes da Coluna se embrenharam para o interior do país, os golpistas de 64 tomaram posse do centro do poder.

Os primeiros arregimentavam pelo convencimento, os segundos pela coação e a força bruta.

Os líderes da Coluna são cantados como heróis, os da Ditadura como algozes.

Os jovens tenentes pregavam as reformas, os generais massacraram as reformas.

Se a Coluna era perseguida, a Ditadura perseguia.

Se a grande marcha suscitou comoção popular, os anos de chumbo tentaram calar o povo.

A primeira foi cantada, a outra foi cuspida.

Uma é pra comemorar, a outra é pra deplorar.

A Coluna é: inspiração dos revolucionários; a Ditadura é: nostalgia dos conservadores.

A primeira foi alento, a segunda foi dor.

Felizmente, a Coluna ficou invicta e a Ditadura foi derrotada.


**http://quemtemmedodademocracia.com/colunas/ventos-do-marajo/o-cavaleiro-da-esperanca-um-cordel-para-luiz-carlos-prestes/

*** http://tributoaocordel.blogspot.com.br/2012/03/sobre-o-golpe-militarpela-verdade.html

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