Todo mundo pode ser feliz em qualquer lugar
Matheus Landim
Ao lado da minha casa existe um corredor que faz parte do quintal.
Quando eu voltei a morar com a minha família, sabia que seria uma
experiência difícil, e que eu precisaria ocupar a minha cabeça com uma
atividade que fosse unicamente minha. Então ocupei o quintal com plantas. As
mais diversas. Uma das minhas favoritas é uma bonina que nasceu do nada num
vaso de peregum roxo.
Digo do nada porque eu plantei uma semente nesse vaso há tanto tempo que
nem lembrava mais dela quando ela brotou - e se desenvolveu incrivelmente
rápido, por sinal. Hoje ela é a bonina mais bonita que eu já vi. Seu caule é
particularmente grosso, quase tão grosso quanto o do próprio peregum (que é o
da folha pequena), e de uma tonalidade verde que me parece incrivelmente
saudável. Suas folhas são largas e finas, e na ponta das ramificações há
flores. Essas flores passam o dia inteiro como que murchas, fechadas em si
mesmas. Apenas quando o sol se põe elas se abrem.
Todos os dias, naquele horário em que não é dia, mas também não é noite,
eu vou ao meu quintal verificar se as flores se abriram. Todos os dias elas
estão lá, misticamente abertas, e todos os dias eu me sinto absolutamente
encantando com sua presença. Gosto de verificá-las porque me sinto responsável
por pelo menos uma coisa verdadeiramente bela nesse mundo.
Me sinto como uma mãe que diariamente pergunta ao seu filho: “Está tudo
bem?”; e, embora as flores não me respondam com a voz que um filho responde a
sua mãe, sinto que elas me respondem sim, de alguma maneira.
Na minha relação com as minhas plantas, não existe nenhuma voz, embora
existam pessoas que cultivem plantas e literalmente conversem com elas. Não sei
por que, mas acho que palavras são desnecessárias (para elas). Acho que elas
têm acesso aos meus pensamentos. Basta eu pensar ou sentir e elas saberão o que
eu sinto ou o que penso.
Também gosto de achar que, quando eu as visito em meu exercício diário e
o vento as agita, elas estão, na verdade, conscientemente reagindo a minha
presença. Como que me cumprimentando. Ou vibrando de felicidade e dizendo: “Ele
chegou! Ele chegou! Ele está aqui!”. Será que elas se sentem tristes nos finais
de semana, quando eu não estou em casa?
É extremamente revigorante e inspirador cultivar uma coisa tão bela
quanto uma planta que têm flores. Claro, eu também gosto das plantas que não
dão flores, ou que só dão flores ocasionalmente, ou as que viverão tanto tempo
que só darão flores quando eu já tiver morrido; mas a sensação de verificar uma
flor em uma planta é como a de receber um presente. É isso mesmo! Sinto que
minha bonina me presenteia com essas flores. “Pobre homem! Vamos dar a ele
algumas flores para que ele se inspire.” Será que elas pensam isso? Não sei.
Mas a delicadeza de sua cor e de suas pétalas é tão comovente que não posso
deixar de indagar se algo tão belo no mundo como uma flor não seria um presente
de uma planta para pôr calor no coração de um homem.
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