O que houve no TSE
Haroldo Lima
Logo depois de concluída a sessão do Tribunal
Superior Eleitoral de ontem, que não cassou a chapa Dilma-Temer, o jornal O
Globo criticou o fato em editorial intitulado “TSE erra o passo”. E continuou:
“De quebra o Tribunal deixa Dilma livre para concorrer em 2018”.
No mesmo diapasão crítico, pela manhã, antevendo o resultado que não
desejava no julgamento do TSE, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima,
dos mais vorazes de Curitiba, no seu estilo agressivo e desrespeitoso dizia “ o
verdadeiro cúmulo do cinismo é a cegueira intencional da maioria dos ministros
do TSE...” (Blog Fausto Macedo).
Realmente, o resultado do julgamento do TSE foi uma derrota para a
república de Curitiba. Membros do Tribunal Superior Eleitoral, especialmente
seu presidente, o controvertido Juiz Gilmar Mendes, que também é do Supremo
Tribunal Federal, STF, fizeram críticas contundentes a métodos arbitrários da
Lava Jato e deram elementos jurídicos que mostravam o golpe que foi dado contra
Dilma Rousseff.
O processo no TSE foi aberto pelo PSDB em 2014 e pedia a cassação da
chapa Dilma/Temer vitoriosa na eleição daquele ano. Seu mentor foi Aécio Neves,
principal concorrente de Dilma na eleição de 2014, e que sustentava ter sido
derrotado por causa do uso de poder econômico e político pela chapa
Dilma/Temer. Se seu pleito prosperasse, ficaria assentado que a chapa
Dilma/Temer ganhou a eleição por abuso de poder econômico e político, seria
então cassada e em seu lugar haveria a proclamação de Aécio como vencedor do
pleito e presidente da República. Mas tudo saiu diferente.
Um golpe parlamentar-judicial-midiático foi dado contra Dilma, Temer
traiu a presidenta e esta foi afastada. O golpista então assumiu a presidência
com o compromisso de levar avante um governo de desconstrução nacional. Foi
flagrado em manobras espúrias de corrupção aberta e apanhado em conciliábulos
vergonhosos com corruptos, tramando obstruir a Justiça. Ficou desmoralizado,
rejeitado pelo povo e com seu mandato ameaçado. Para sobreviver, assumiu com a
direita brasileira o compromisso de comandar a aprovação de duas reformas
reacionárias no Congresso, a trabalhista e a previdenciária.
Quando emitiram seus votos, os ministros do TSE apresentaram suas
justificativas. E aí alguns fizeram formulações categóricas que permitiam, a
quem estivesse ouvindo, perceber o golpe que foi dado contra Dilma em 2016 e,
por outro lado, como eram atrabiliários certos métodos usados pela Lava Jato.
O presidente do STE, ministro Gilmar Mendes, declarou: “não se substitui
um presidente da República a qualquer hora, ainda que se queira”. E mais: só se
tira presidente em casos absolutamente claros e extremos, “em situações
inequívocas”. Agregou: é evidente a baderna que foi a circulação de dinheiro de
caixa 2, 3, propina etc. na eleição de 2014, mas - perguntava Gilmar - “foi só
um lado que fez isso?”. Ele próprio respondeu: não, os outros candidatos também
fizeram. E completava: não se pode concluir até que ponto esses ilícitos
repercutiram na eleição e, sobretudo, a soberania popular não pode ser
desrespeitada, cassando mandato de presidente assim, por qualquer motivo; se
crime houve que se julguem as pessoas envolvidas e se as condenem, mas não
cassando o mandato do presidente.
Na verdade, esse raciocínio é correto. As fartas provas levantadas pelo
ministro Relator Herman
Benjamin mostravam que houve sim utilização indevida de
recursos na campanha de 2014, mas isto foi feito por todos os candidatos, e
isto se faz há muito tempo no Brasil, como o Relator salientou. Então, como se
pode concluir que foram aqueles recursos indevidos que levaram à vitória
eleitoral de uma chapa? Por que os concorrentes não foram vitoriosos se fizeram
a mesma coisa?
Entendendo como justo esse cuidado em não cassar mandato de presidente
de qualquer maneira, ainda que tenha havido problemas, há que se criticar com
força o fato de que, quando foi cassado o mandato de Dilma Rousseff, nem os
Juízes da Suprema Corte, nem os Parlamentares tiveram esse cuidado, afastando a
presidenta por uma razão mentirosa, que sequer foi provada, a chamada pedalada
fiscal. Nesse caso, essas autoridades optaram por montar uma farsa e participar
de um golpe. Golpe este que mergulhou nosso país em grandes dificuldades,
especialmente por estar sendo governado por uma quadrilha.
O presidente Gilmar Mendes, que não tem um passado de coerente defesa
democrática, ontem, entretanto, chegou a dizer que vivemos sob o risco de um
“estado policial”. Falando sobre as delações premiadas, tão abusivamente usadas
pela Operação Lava Jato, disse: estamos sabendo de que forma são feitas essas
delações; chega-se diante de um preso e diz-se: aceitamos sua delação desde que
você diga algo sobre as pessoas desta lista aqui, e exibem uma lista com nomes.
Acrescentou Gilmar: o sujeito, assim, é “capaz de denunciar a mãe”. E neste
contexto afirmou o ministro: “não se combate crime cometendo crime”, em clara
referência aos métodos criminosos da Operação Lava Jato.
Também o ministro Napoleão Maia Filho foi duro ao se referir à
“cobertura falsa” de certos fatos pela grande mídia e ao tecer comentários
sobre a delação premiada. Disse: “A delação está servindo para isso”. Alguém é
“solicitado a denunciar alguém em troca de benesses”, e é o que está
acontecendo.
A república de Curitiba saiu enfraquecida do julgamento de ontem no TSE.
Nele, percebe-se o
crescimento de contradições no Judiciário. Mas, os desafios
estão postos, a luta continua e é complexa. As batalhas são intrincadas e
embaralhadas.
O Temer continua desmoralizado e ameaçado por diversas outros expedientes
em curso. Mas deve ser derrotado mesmo é nas ruas.
Do Palácio do Planalto, logo após o encerramento do julgamento do TSE,
veio a informação de que terão que correr atrás para recompor forças no
Congresso para aprovar as fatídicas reformas trabalhista e previdenciária.
O que mostra que a nossa luta é justamente a oposta; arregimentar forças
populares e parlamentares para derrotar as duas reformas sinistras do governo
golpista.
Haroldo Lima é membro da Comissão Política do
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
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