Entre quem banca e quem precisa
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância.
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância.
No Brasil de hoje, quem banca é o
Mercado; enquanto a nação e o povo é que precisam. Em direções diametralmente
opostas.
A lógica do Mercado é a da
ultrafinanceirização — mundo afora e aqui. Da ruptura da bolha imobiliária em
2008, nos EUA, aos pesados investimentos dos bancos centrais na Europa para
salvar bancos privados e a regressão de direitos visando à redução dos custos
de produção e a recuperação da taxa média de lucro e, portanto, da capacidade
de reinvestimento. Tudo sob o modelo do enfraquecimento dos Estados nacionais e
o borramento de fronteiras soberanas.
No outro extremo, a lógica é a do
Estado imprescindível como indutor do desenvolvimento e a inclusão produtiva
como fator de redução da pobreza e de valorização do trabalho. Não há solução
para a crise global aprofundando o apartheid social.
Esse é o pano de fundo das
eleições gerais no Brasil, em outubro de 2018.
Por enquanto, a dimensão dos
problemas e o acirramento das contradições parecem ser maiores do que a
capacidade subjetiva das correntes políticas em presença.
Nem a reverberação do passado
recente dá conta dos desafios atuais, nem a trama midiática artificiosa. Ferir
os problemas centrais e apontar respostas consistentes e factíveis é
imprescindível.
Por enquanto, prevalece a
dispersão — tanto no campo das atuais forças governistas como na oposição.
Na oposição, sobretudo as pré-candidaturas
de Lula (PT), Ciro (PDT) e Manuela (PCdoB) são chamadas a darem um passo
adiante na construção de plataformas, que podem se cruzar desde o primeiro
turno, ou não.
Entre os governistas, obedientes
antes de tudo aos ditames do Mercado, experimentam-se fórmulas discrepantes,
que envolvem ensaios de possíveis outsiders a nomes tradicionais do PSDB e do
PMDB, que alguns imaginam possa ser o próprio Temer. Ou o seu mentor, o
ministro Meirelles.
Alckmin, pelo PSDB, vem insinuando
ideário a um só tempo "de direita e de esquerda". Ou, melhor dizendo,
um programa frankstein. Ideias que transitam nos interesses antagônicos entre
quem banca e quem precisa. Dificilmente colará.
Uma coisa é atrair forças situadas
ao centro como aliadas, fieis da balança do jogo eleitoral. Outra coisa é
empolgar o eleitorado com programa centrista numa sociedade a cada dia mais
polarizada entre interesses extremos.
O buraco é mais embaixo, como se
costuma dizer. E implica amplo debate desde já.
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