No
rádio, desgaste e resistência
Luciano Siqueira
Mesmo
com a multiplicidade e a sofisticação das mídias, continuo ouvinte do rádio. E
creio que parcela expressiva da população também — embora eu não tenha em mãos
dados estatísticos sobre o assunto.
Até
emissoras que nos boletins do Ibope aparecem com "traço" de audiência
têm seu nicho. Sempre que entrevistado por uma delas, alguém comenta que me
ouviu.
Então,
agora que com pouco mais de dois meses de governo o capitão Bolsonaro amarga
corrosão progressiva dos seus índices pessoais de popularidade e de aprovação
de sua gestão, o rádio cumpre o seu papel.
No
rádio, ouço logo cedo o lamento de comentaristas econômicos quanto à
incapacidade do presidente da República negociar apoio parlamentar para a reforma
da Previdência.
O
Mercado, dizem, anda exasperado. Há uma tendência de queda do índice Bovespa e
de aumento progressivo do dólar; investidores estrangeiros, que se mostravam
animados a voltar a investir no Brasil, se retraem.
Diante
de tanta incerteza, os chamados capitais de risco se manterão equidistantes,
comentam.
Ou
seja, o Mercado elegeu um presidente compromissado com as altas esferas do
rentismo que não está se mostrando capaz de entregar a encomenda.
De
passagem, vale anotar que as tresloucadas postagens do capitão presidente e
seus filhos diletos no Twitter não são sendo suficientes para convencer a
maioria. Tanto que há dias vem sendo anunciada nova mudança na equipe de
comunicação do Planalto, justamente para tentar o desgaste, sobretudo nos
grandes centros urbanos, a partir de São Paulo.
Quando
o "inimigo" se embaraça, cá do campo das forças oposicionistas cabe
atenção, bom senso e sagacidade. Para lhe impor derrotas parciais que, num
processo cumulativo, possam contribuir para uma alteração futura da correlação
de forças.
A
aprovação pela Câmara dos Deputados, por ampla maioria, da emenda
constitucional que restringe a quase zero o controle do Executivo sobre a
execução do Orçamento Geral da União — em tese uma ideia discutível — se
constitui em derrota expressiva do governo.
Agora,
numa combinação entre a resistência no parlamento e a luta na base da
sociedade, urge erguer com firmeza e argumentação compreensível pela maioria as
bandeiras da defesa da Previdência Social pública e da Educação pública de
qualidade, ambas ameaçadas pelo governo.
Em
outras palavras, trata-se da luta de ideias em todos os níveis, tendo como
vetor a resistência de democrática e a construção de uma vontade oposicionista
a mais ampla possível, no parlamento, nos salões, nas redes, no rádio e nas
ruas.
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