Por onde
podemos ir?
Luciano Siqueira
Miguel Arraes — com quem convivi politicamente por 24 anos — costumava
sintetizar uma ideia em frase curta:
— Não é por aí, para manifestar discordância.
Ou concluindo a defesa de uma determinada opção tática:
— É por aí.
Fosse vivo certamente encararia a atual situação do país com um misto de
preocupação e sagacidade tática.
Em quase 60 anos de vida pública, o ex-governador de Pernambuco sempre
pautou sua conduta por uma firme percepção da centralidade da soberania
nacional e uma enorme sensibilidade para com os problemas que afligem o
cotidiano do nosso povo.
Contrastando com o jeito simples de se portar e de falar, era um intelectual,
estudioso dos problemas geopolíticos e atento a inovações tecnológicas que
pudessem ser postas a serviço da melhoria das condições de vida da população.
Sempre foi um homem de frente, ou seja, na resistência à ditadura militar
e quando se elegeu prefeito do Recife e governador de Pernambuco (por três
vezes) viabilizou o êxito eleitoral através de ampla e diversificada conjugação
de forças.
Certamente uma boa referência para todos nós que, no campo democrático,
resistimos ao governo de extrema direita do capitão Bolsonaro e à onda
conservadora que contamina a sociedade brasileira.
Diante de tão grave situação, nada mais primário do que condutas
exclusivistas na construção de projetos eleitorais, mirando o pleito do ano que
vem e o provável embate presidencial de 2022.
Aos que detém alguma fatia de poder nos planos estadual e municipal não
se pode negar o bom exercício da hegemonia — que implica incessante diálogo e
consideração devida dos interesses e do papel dos aliados.
Hegemonia se conquista e se afirma na pluralidade e na amplitude; enquanto
o “hegemonismo” é o caminho mais curto para a perda da hegemonia.
Se é certo que eleições municipais são por natureza dispersivas — porque
estimulam naturalmente candidaturas majoritárias próprias (e agora mais ainda
para favorecer a formação de chapas competitivas às câmaras municipais, sob legislação
impeditiva de coligações), isto não quer dizer necessariamente que coalizões pré-existentes
sejam desfeitas e se instale como irrevogável a linha do “cada um por si”.
Entre os pleitos de 2020 e 2022 há uma resistência imediata que requer convergência
e robustez, sob pena de um avanço rápido da agenda ultraliberal que atropela os
direitos do povo, o estado democrático e a soberania do país.
Por enquanto, pelo comportamento dos principais partidos de oposição na
esfera nacional, a dispersão tende a ser a regra e a convergência, a exceção.
Como diria Miguel Arraes, não deve ser por aí. E ainda há tempo para convergências.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2NmRg71 Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário