A corda estica. Até quando?
Luciano Siqueira
Por
que o povo brasileiro não reage?, perguntam frequentemente militantes,
ativistas e articulistas de diversas mídias.
As principais
referências para tal indagação são o desastroso governo Bolsonaro, os atropelos
processuais da Operação Lava Jato (que resultaram na condenação e prisão sem
provas do ex-presidente Lula) e, sobretudo, o visível agravamento da crise
social.
Agora
o IBGE, através do estudo Síntese de
Indicadores Sociais,
informa que a extrema pobreza bate
recorde e já atinge 13,5 milhões de brasileiros, que sobrevivem com menos de R$
145 por mês.
Tudo a ver com a crise
econômica, que tende a se agravar mediante o figurino ultraliberal do ministro Guedes
e equipe.
E que se faz dramática
com a ausência de perspectiva. Tanto as idiotices do presidente da República e
a instabilidade política visível a olho nu pelo cidadão comum, como a dificuldade
crescente de fazer as compras ao final da semana alimentam uma espécie de fogo
de monturo da insatisfação das camadas populares da sociedade brasileira.
Fogo de monturo, sim; que
pode produzir labaredas adiante.
É que a reação em massa,
de milhões de insatisfeitos, não se dá instantaneamente. É permeada por muitas
variáveis, da narrativa dominante nas grandes mídias aos impasses do próprio
movimento de resistência, ainda muito disperso e carente de uma abordagem
atualizada da organização e da mobilização das massas insatisfeitas.
Há, assim, um acúmulo
quantitativo – ora lento, ora acelerado – que adiante produzirá um salto
qualitativo na consciência e na atitude rebelde da maioria.
O povo chileno, por
exemplo, não reagiu de pronto às políticas ultraliberais. Até as explosões
atuais demandou tempo transcorrido em pequenas lutas, setoriais ou localizadas,
de curta ou média dimensão, até a corda esticar a ponto de romper.
E assim tem sido ao longo
da História, aqui e alhures.
A constatação feita a partir
desses dados do IBGE, neste instante, dá a dimensão da tragédia e, por extensão,
prenuncia o tamanho da inevitável explosão social futura.
Às forças políticas e
segmentos sociais de oposição cabe examinar a situação concreta em profundidade
e olharem-se criticamente ao espelho, pois diante delas está um imenso desafio
para muito além de projetos partidários exclusivistas.
Os destinos do povo e da
nação estão em jogo.
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