A invasão dos bárbaros
Cícero Belmar*
Invadir e fechar as
instituições é desconstruir uma democracia que foi erguida a custa de muita
luta. Que resultou na elaboração da Constituição de 1988. Essa estratégia de
bárbaros é o golpe fatal para impor a ditadura que interessa a poucos e divide
a Nação.
A marca dolorosa das
ditaduras está encravada na alma de muitos que tiverem familiares e amigos
mortos ou torturados; e a liberdade cerceada. Sabedores de que a esquerda é
sequelada, a direita faz terrorismo com a dificuldade que as pessoas têm
de lidar com as memórias traumáticas.
Mas essas manifestações de
amanhã têm tudo para serem um blefe: com a coragem dos olavos de carvalhos,
esses manifestantes querem causar pânico e intimidar. Todas as vezes que a
esquerda depara com ameaças malucas como essas, fica constrangida por forte carga
emocional.
Setembro está só começando
e essas manifestações nos dão uma amostra grátis do acirramento da campanha
eleitoral para presidente. Como a maioria dos brasileiros fizeram esses dias,
eu falava sobre esse tema com minha amiga, a atriz de teatro Hilda Torre. Ela
me disse:
“O ano que vem será tenso
por causa das eleições. Provavelmente, um período sem afetos e sem respeitos.
Ao mesmo tempo, a pandemia ainda estará presente. De que forma podemos
neutralizar a carga de negatividade? O campo energético que ressoa
coletivamente precisará de autocuidado e autoamor para, assim, também
reverberar no coletivo”.
Outra pessoa com quem
conversei foi o poeta, um dos maiores de Pernambuco, Raimundo de Moraes, irmão
por escolha. Ele é um estudioso do tarô. O que as cartas nos antecipam para o
próximo ano?
“Pela soma dos números que
compõem o ano, 2022 é simbolizado pela lâmina seis, Os Enamorados, que remete a
uma encruzilhada no momento de uma decisão que atingirá nossa vida e a das
pessoas ao nosso redor. Desta forma, essa lâmina do tarô adverte sobre os
perigos da indecisão e da inércia. Mas também é um ano cheio do número dois,
que simboliza a carta da Sacerdotisa, favorecendo o estudo, o plano mental, a
revelação das coisas ocultas”. E finaliza Raimundo: “Como qualquer lâmina do
tarô, essa tem o seu lado sombra. O dela é a mentira, o fanatismo, as
dissimulações, e ações que podem ocasionar momentos de hostilidade”.
As ameaças de invasão, que
foram feitas, são tão importantes quanto as invasões concretizadas. Já
alcançaram os objetivos na medida em que o terrorismo causa desgaste emocional,
com suas pautas golpistas. A direita quer exaurir a esquerda, quebrar as forças
antes da luta final.
Sabemos como foi 2018,
quando a campanha presidencial transcorreu num clima especialmente tenso,
debate polarizado, muito medo e ansiedade. O próximo ano pode ser pior, com o
fascismo escancarado.
Por enquanto, essas
manifestações são apenas ameaças. Mas, é preciso encará-las como se o pior
realmente estivesse a caminho. Fica a dica: as autoridades têm que agir agora
em nome do equilíbrio e pautar as manifestações de acordo com a lei. Ou a paz
nas eleições de 2022 será uma ficção. E a violência, uma consequência
inevitável.
*Cícero Belmar é escritor e jornalista. Autor de contos, romances, biografias, peças de teatro e livros para crianças e jovens. Membro da Academia Pernambucana de Letras.
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