Congresso Nacional rejeita veto de Bolsonaro às federações
partidárias
Senadores e deputados,
por ampla maioria, reunidos em sessão do Congresso Nacional, sepultaram de vez
o veto de Bolsonaro ao projeto das federações partidárias. Maioria das
lideranças realçou o caráter modernizante da lei e um passo importante no
processo democrático
Portal Vermelho
Reunido em sessão do Congresso Nacional, o Senado Federal derrubou, na
noite desta segunda-feira (27), o veto presidencial às federações partidárias.
Foram 45 votos contra o veto e 25 favoráveis. O mínimo exigido para derrotar a
oposição do Palácio do Planalto ao PLS 477/15 eram 41 votos.
Em seguida, o veto integral ainda foi apreciado no plenário Câmara dos
Deputados, que também se opôs à oposição presidencial ao projeto de lei (PL
2.522/15) que foi aprovado pela Casa em agosto.
Como o destaque ao veto apresentado pelo PP foi retirado, o veto 49/21
foi chancelado em globo, e derrubado pelos deputados, por 353 votos a 110 e 5
abstenções. Desse modo, o texto vai à promulgação.
Federação longeva
No Senado, Marcelo Castro (MDB-PI), um estudioso de matérias dessa
natureza, fez uma defesa enfática do projeto, ao afirmar que “diferente das
coligações, a federação é consistente em razão da lógica programática que
deverá imperar entre os partidos federados”.
“Quando
nós aprovamos a cláusula de barreira, nós queríamos e queremos uma democracia
forte, consolidada, em que o presidente da República, seja ele qual for — de
esquerda ou de direita, ou atual ou ex-presidente ou um futuro presidente de
uma terceira via —, não importa, tenha condições de governar o país sem o
chamado presidencialismo de coalizão, do fisiologismo, do toma lá, dá cá”,
defendeu a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que preside a Comissão de
Constituição e Justiça do Senado.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) também reagiu à argumentação de
alguns senadores de que o projeto das federações serviriam para “burlar” as
coligações proporcionais rejeitadas pelo próprio Senado última semana.
“São coisas totalmente diferentes”, explicou, pois, “enquanto as
coligações serviriam a alianças eleitorais pontuais, com resultados adversos
aos pretendidos pelo eleitor, as federações são perenes e ajudam a enxugar o
quadro partidário, além de ser um importante instrumento de modernização de
nossa legislação”, sentenciou. O senador fez referência a vários países que
adotam as federações e que evoluíram em seus sistemas partidários democráticos.
José Aníbal, do PSDB de São Paulo, também encaminhou favoravelmente à
derrubada do veto, “por se tratar de um projeto que aperfeiçoa o sistema
democrático, incentivando as alianças programáticas”.
Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou que “o Senado Federal,
em votação simbólica, aprovou esse mesmo projeto há seis anos atrás, o que se
repetiu na Câmara” e ressaltou “o avanço que a matéria representa para o
fortalecimento do sistema partidário brasileiro e sua legitimidade junto aos
eleitores”.
Da mesma forma, na Câmara, vários parlamentares saíram na defesa da
derrubada do veto, de praticamente todos os partidos. Marcelo Freixo (PSB-RJ)
acentuou “o caráter democrático do projeto” e um “passo a mais que representa
na evolução da democracia brasileira”.
Líder da Minoria, Freixo também defendeu a criação das federações, que,
para ele, não serão beneficiadas as chamadas “legendas de aluguel”, mas
partidos com uma atuação e objetivos em comum.
“O grande problema da coligação é que é uma burla: você termina com ela
depois, e aquela pessoa foi eleita por alguma coisa que você não sabe dizer o
que era. A federação, não. Ela vale para o Brasil inteiro, vale para o mandato
inteiro. Você não pode desfazer, e você apresenta um programa, com que o
eleitor vai se identificar”, argumentou.
Segundo o deputado Enrico Misasi (SP, líder do PV na Câmara, a
derrubada do veto possibilita que partidos com consistência ideológica “possam
permanecer, unindo-se em todos os âmbitos da federação nacional, estadual e
municipal com caráter programático, fazendo assim com que a democracia se
fortaleça”.
“Quero ressaltar a importância de derrubarmos o veto da federação.
Diferentemente da coligação, ela tem princípios, une partidos que são
ideologicamente parecidos. Por isso, derrubar o veto é uma oportunidade de
diminuir o quadro partidário, mas dá condições de sobrevivência a todos aqueles
que têm programas ideológicos”, destacou o deputado Alex Manente (SP),
líder do Cidadania.
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), no entanto, destacou que as
federações são exemplos de sucesso em outros países democráticos, como Uruguai
e Alemanha. “O Uruguai tem adotado a frente ampla, com vários partidos se
organizando em torno de um objetivo comum. Na Alemanha, agora, Angela Merkel
deixa, depois de 15 anos, o governo”, apontou. Ela lembrou que a federação tem
caráter programático, diferente das coligações.
Luciana Santos: noite histórica e simbólica
A presidenta nacional do PCdoB, vice-governadora de Pernambuco, Luciana
Santos, considerou a noite histórica e simbólica para a democracia, em sua
conta no Twitter. “Numa noite histórica, o Congresso Nacional derrubou o veto
do presidente Bolsonaro às Federações Partidárias. E para tornar esse momento
ainda mais simbólico, se propõe nomear a lei em homenagem a nosso querido
Haroldo Lima, incansável defensor da Democracia”.
Luciana
explicou que o PCdoB se empenhou, com sua Bancada na Câmara dos Deputados, sob
a liderança de Renildo Calheiros (PCdoB-PE), em conjunto com um amplo leque de
legendas, pela aprovação da Federação de partidos. “E atuamos assim porque
temos certeza que esse modelo fortalece a democracia e o pluralismo político”,
disse.
Ela parabenizou as/aos parlamentares por essa importante decisão.
“Agradeço pelo debate respeitoso que tivemos, com todas as forças políticas,
nesse período. E parabenizo em especial essa bancada gigante do PCdoB,
pequenina e com o olhar sempre nos Andes. Viva a Democracia! Viva o PCdoB!”
Renildo Calheiros: sem imposição
A federação “não é imposta a ninguém; só fará a federação quem pretender
usá-la”, disse o líder do PCdoB na Câmara, Renildo Calheiros (PE), um dos mais
entusiastas defensores do projeto vetado por Bolsonaro, que acompanhou a sessão
do Senado e da Câmara ao lado de toda bancada do partido e da presidenta
nacional da legenda, Luciana Santos.
“Foi uma caminhada de muito tempo e, felizmente, vitoriosa”, disse o
líder do partido, deputado Renildo Calheiros. Ele ressaltou que a promulgação
precisa ser feita antes do dia 2 de outubro para a norma ser aplicada nas
eleições de 2022.
Renildo
acrescentou: “Quem faz a federação, presidente, provavelmente não sai mais. Ela
é uma espécie de pré-fusão; ela é a antessala da fusão, porque, se você sai,
perde o fundo partidário, perde o fundo eleitoral, perde o funcionamento
parlamentar e perde o chamado direito de antena, que é o tempo de rádio e de
televisão. É óbvio que ninguém vai sair ao entrar na federação.”
Coligação x Federação
“Em primeiro lugar, federação e coligação não tem nada a ver. Coligação
pertence à legislação eleitoral. Federação pertence ao sistema partidário. São
coisas distintas ao sistema partidário”, esclareceu Renildo, na tribuna da
sessão no Senado.
“São coisas distintas, não têm relação uma com a outra”, acrescentou
“Esse projeto de federação dá à federação um caráter nacional. Você
forma a federação nacionalmente, e ela prevalece em todo o País, em todos os
Estados, em todos os municípios.”
A federação partidária nada tem a ver com a coligação. A coligação,
presidente, pode ser feita entre partidos de campos políticos diferentes,
partidos que têm programas muito distantes”, asseverou.
Afinidade e convergência programáticas
“Como partidos irão conviver quatro anos pelo menos nas câmaras de
vereadores, nas assembleias legislativas, na Câmara dos Deputados, no Senado
Federal se eles não tiverem afinidade programática?”
“Como eles irão conviver durante todo esse tempo se eles não tiverem
afinidade política? Inclusive na eleição de prefeito, daqui a dois anos, esses
partidos que se federaram funcionarão como um único partido, terão que ter um
único candidato a prefeito”, defendeu o líder do PCdoB.
“Então, vejam, não tem nada a ver com a coligação. E eu diria mais: a
federação é uma maneira de você enxugar o quadro partidário pelo aspecto
positivo, porque você estimula, você incentiva a convergência programática e a
convergência política.”
Conteúdo do projeto
O texto que vai ser transformado em lei federal permite que dois ou mais
partidos se unam para atuar como agremiação partidária.
Originário do Senado, o projeto também foi aprovado pelos deputados, em
agosto, mas acabou vetado integralmente pelo presidente Jair Bolsonaro.
O chefe do Executivo federal vetou totalmente a proposta sob
justificativa rala, que “a referida proposição contraria o interesse público,
visto que inauguraria um novo formato com características análogas à das
coligações partidárias”.
O que é, evidentemente, falso, pois, coligação e federação têm caráter
distinto
Segundo a proposta, só poderão integrar a federação partidos com
registro definitivo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Os partidos reunidos em federação são obrigados a permanecer agrupados pelo
prazo mínimo de uma legislatura, que corresponde a 4 anos, podendo ser
constituída até a data final das convenções partidárias.
Lei Haroldo Lima
Ao final da votação na Câmara dos Deputados, vários deputados da bancada
do PCdoB, ao lado de Luciana Santos, resgataram o papel do ex-deputado federal
e dirigente do partido, Haroldo Lima, que, ainda na década de 90, articulou um
projeto semelhante ao das federações partidárias, dentro do propósito de
fortalecer a democracia no país.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) sugeriu dar à lei que cria a
federação partidária o nome de Haroldo Lima, ex-deputado do partido que faleceu
de Covid-19 em março deste ano. “Foi Haroldo Lima quem começou a luta pela
construção das federações partidárias, que chamava de frente de partidos”,
disse.
“Não tenho a menor dúvida de que este debate acabou se confundindo com a
bancada do PCdoB, mas será um instrumento para ampliação da democracia ao
produzir convergência de partidos políticos por identidade programática”, disse
Silva.
Renildo, o líder, também fez um agradecimento aos presidentes das duas
casas, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL), bem como ao
presidente dos trabalhos, Marcelo Ramos, por terem assegurado a realização da
sessão do Congresso Nacional que analisou o veto ao projeto das federações
partidárias e outros importantes vetos que foram derrubados pelo Parlamento.
Com informações da Hora do Povo, da Liderança
do PCdoB e da Câmara dos Deputados
.
Veja:
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