De
volta à Idade Média
Luciano Siqueira
Já se passaram mais de sete meses que a Covid que
me abateu por uns dez dias: relativamente leve, pois o vírus me encontrou com
as duas doses da Coronavac em dia.
Mas traiçoeira a médio prazo.
Continua dando sinal de vida através da alteração
do meu paladar e do olfato. Na prática, cumpro uma espécie de involuntário
regime alimentício que me tem feito perder peso.
Passei a comer pouco, até estava precisando.
Mas também tem perturbado meu sono.
Normalmente durmo bem. Sou daqueles que podem dizer
“nenhum problema jamais me tirou o sono”.
Mas depois da Covid, tem sido um sono interrompido
no meio da madrugada ou permeado por sonhos confusos que me fazem sentir a
estranha sensação de estar dormindo, porém imaginando coisas. Conscientemente.
Assim, não foi pequena a minha surpresa ao ler
agora no jornal O Globo a notícia de que talvez eu esteja experimentando “um ciclo natural que acredita-se ter sido o padrão do
final da Idade Média até o início do século XIX no Ocidente.”
Segundo a reportagem, naquela
época as pessoas iam dormir por volta das 18 ou 19 horas e despertavam três a
quatro horas depois.
Aí a vida seguia em frente. O
pessoal lia livros, comia alguma coisa, bebia uma taça de vinho, fazia amor...
até que umas três ou quatro horas após voltava aos braços de Morfeu para mais
umas duas horas de sono.
Até que com o advento da luz
elétrica surgiu esse hábito, que perdura até hoje, de se dormir à noite toda.
Quem diz isso com muita
propriedade, porque pesquisou o assunto cuidadosamente, é Roger Ekirch,
professor de história da Virginia Tech e autor de “The Great Sleep
Transformation” (A grande transformação do sono).
Então, sou levado a uma conclusão insofismável: o
novo coronavírus me obriga a retornar aos tempos de Giovanni Boccaccio.
Não tenho preconceito com nenhuma das múltiplas
faces do tempo, que as percebemos por muitos modos na esteira do que dizem
cientistas, pintores, dramaturgos e poetas.
Mas meu sono de cinco horas diárias ininterruptas
eu quero de volta. O quanto antes.
Onde a luta
encontra a poesia e se expressa em imagens https://bit.ly/3E95Juz
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