19 junho 2022

Futebol: história viva

Quase fui campeão do mundo na Copa de 2002

Fascinou-me o convite para ser diretor da seleção, mas recusei
Tostão, Folha de S. Paulo   

 

Neste mês, há 20 anos, no Japão, o Brasil ganhou, pela quinta vez, a Copa. Eu estava presente, como colunista. PVC conta todos os detalhes no ótimo livro "Cinco Estrelas – a Conquista do Penta".

Em 2001, quando foi convidado para ser o treinador da seleção, Felipão era técnico do Cruzeiro. Conversei com ele em Belo Horizonte. Estava impressionado com a seleção argentina, dirigida por Bielsa, disparada, a melhor das Eliminatórias. A Argentina foi eliminada na primeira fase do Mundial, e o Brasil foi campeão.

Felipão organizou a equipe, na prancheta, da mesma maneira que a Argentina, com três zagueiros, dois alas (Roberto Carlos e Cafu), um volante (Gilberto Silva), um meia ofensivo (Juninho Paulista) e três na frente (Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo).

Não funcionou na primeira fase da Copa, porque os dois alas jogavam encostados à lateral, e Juninho era mais um atacante, deixando Gilberto Silva sozinho no meio-campo. A Argentina, nas Eliminatórias, era mais compacta, tinha dois alas que atuavam ao lado do volante, como armadores, como costuma fazer hoje o Manchester City.

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Nas oitavas de final, Felipão mudou, e o time melhorou, ao colocar Kleberson no lugar de Juninho Paulista. Kleberson marcava como volante e avançava como meia.

Quase fui campeão do mundo em 2002. Quando Leão foi demitido, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, convidou-me para ser o diretor técnico. Eu escolheria o treinador, que seria Felipão. Fiquei fascinado pelo convite, pelo cargo e pelo desafio, e disse a ele que lhe daria a resposta no dia seguinte, mesmo já sabendo que não aceitaria, porque não tinha nenhum apreço pela CBF e por Ricardo Teixeira, já acusado, na época, por trapaças. Achava ainda que um dos motivos do convite era fazer um agrado, para diminuir as críticas à entidade, pois eu era campeão do mundo como jogador e colunista de um grande jornal.

Na véspera da final da Copa de 2002, os jornalistas alemães presentes no centro de imprensa me disseram que a finalista Alemanha era uma das piores da história do país. O nível da Copa realmente não foi bom, o que não tira os enormes méritos da seleção brasileira.

Depois daquele Mundial, todos perceberam que era preciso melhorar, e começou uma evolução no futebol, que nunca vai acabar. A Alemanha investiu na formação de jogadores, na maneira de atuar, formou uma ótima geração, a do 7 a 1, e ganhou em 2014. Mas a grande transformação foi feita no Barcelona, dirigido por Guardiola, seguido pela seleção da Espanha, que, além de encantar, foi bicampeã da Eurocopa, em 2008 e 2012, e campeã mundial, em 2010.

Hoje, as equipes são mais compactas, atacam e defendem em bloco, com intensidade e velocidade, pressionam quem está com a bola em todo o campo, os goleiros aprenderam a jogar fora do gol e a dar bons passes, os meio-campistas atuam de uma intermediária à outra, defendem, constroem e avançam, e tantos outros detalhes. É outro futebol.

Por outro lado, as regras básicas do futebol continuam as mesmas. Dizem que, há quase 150 anos, os ingleses, bebendo cerveja em um pub, decidiram, oficialmente, as regras do jogo, como o tamanho do gramado, a marcação das linhas das áreas, do meio-campo e do pênalti, o número de 11 jogadores para cada lado e muitas outras coisas, que perduram, como a troca de passes, símbolo do futebol coletivo, apesar de muitos insistirem até hoje em dar chutões para chegar rapidamente ao gol.

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