Previsão de crescimento do PIB para 3% resulta de mudanças estruturais e investimento
Especialistas consultados pelo Portal Vermelho explicam os fatores que favoreceram este resultado, como “a presença do Estado como agente econômico dinamizador”.
Cezar Xavier/Vermelho
O Banco Central anunciou, nesta quinta-feira, uma revisão otimista para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023, elevando a previsão para 3%, em comparação aos 2,9% estimados em setembro. O Relatório Trimestral de Inflação também revelou uma projeção de alta de 1,7% para o PIB em 2024, em comparação com os 1,8% previstos anteriormente. As previsões otimistas durante todo o ano surpreenderam “o mercado”, que tinha expectativas muito tímidas pela este primeiro ano de Governo Lula.
A instituição financeira destacou que, apesar da revisão positiva, o crescimento previsto para 2024 ainda é mais conservador em relação à estimativa do Ministério da Fazenda, que divulgou uma expectativa de crescimento de 3,0% em 2023 e 2,2% no ano seguinte.
A previsão para o índice inflacionário também foi objeto de revisão, com uma queda significativa nas chances de ultrapassar a meta. O Banco Central agora projeta uma probabilidade de 17% de a inflação exceder o limite superior de 4,75% da banda de tolerância, em comparação com os 67% estimados em setembro.
Especialistas, como o sociólogo e consultor sindical Clemente Ganz Lúcio, destacam que o crescimento projetado para 2023 é impulsionado pela retomada do investimento e pela presença do Estado como agente econômico dinamizador. Clemente ressalta iniciativas como a retomada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o fomento de projetos de infraestrutura.
O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, também comenta sobre a perspectiva econômica, ressaltando que o ano eleitoral em 2024 pode impulsionar o investimento, especialmente nos municípios. Ele destaca a importância de mudanças estruturais, como a reforma tributária e o investimento público, para manter o crescimento econômico.
O Banco Central, no relatório, observa que, embora os dados da atividade econômica tenham surpreendido positivamente em 2023, já há sinais de desaceleração devido aos efeitos da política monetária contracionista, implementada para controlar a inflação.
A expectativa do BC é que a atividade econômica mostre uma retomada gradual em 2024, com moderação do consumo das famílias, retomada dos investimentos e manutenção de um balanço favorável nas contas externas.
Além disso, em relação à inflação, o BC destacou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu menos do que o previsto, principalmente nos segmentos de preços administrados, como combustíveis, e de bens industriais. A instituição enfatizou a importância da política de preço da Petrobras, reorganização dos estoques reguladores e a política de valorização do salário mínimo na contenção da inflação.
O relatório também aborda a previsão para as transações correntes, com uma melhora nas estimativas para o resultado deste ano, projetando um déficit de US$ 26 bilhões, em comparação com os US$ 36 bilhões previstos anteriormente.
Em resumo, as perspectivas econômicas para 2023 e 2024 indicam um cenário de crescimento, controle da inflação e ações estratégicas do governo para impulsionar investimentos e mudanças estruturais. O desafio reside na manutenção dessas condições e na busca por um novo patamar de desenvolvimento para o país.
Medidas para sustentar o crescimento
Clemente Ganz Lúcio compartilhou suas reflexões sobre os fatores que impulsionaram esse movimento otimista e as perspectivas para o próximo ano.
O diferencial marcante em 2023, de acordo com Ganz Lúcio, foi a retomada da presença do Estado como um agente econômico dinamizador. Em entrevista ao Portal Vermelho, ele destacou iniciativas cruciais, como a reinserção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “A retomada do PAC e a retomada de obras paralisadas e a retomada da elaboração de projetos e a retomada da indicação de diretrizes para o investimento em infraestrutura econômica e social dinamizam a organização do sistema produtivo.”
A oferta de crédito a custos mais baixos, tanto por meio do cooperativismo de crédito quanto dos bancos públicos, especialmente o BNDES, também desempenhou um papel fundamental. O consultor enfatizou que essa oferta, com taxas de juros mais acessíveis, é compatível com o custo de capital necessário para incentivar investimentos pelo setor privado.
O sociólogo ressaltou a importância de inúmeras iniciativas governamentais, abrangendo desde a manutenção da renda até a renegociação de dívidas, visando criar um ambiente propício para investimentos e a retomada de projetos.
Todo esse conjunto de medidas teve um impacto significativo na dinâmica econômica, levando o Brasil de volta à presença mundial no comércio e reabrindo fronteiras nas relações internacionais. Ganz Lúcio acredita que essa estratégia do governo para 2024 consiste em fortalecer essas iniciativas.
Dentre os objetivos para o próximo ano, ele destaca a busca por formas de oferecer crédito para investimento, com custo de capital mais baixo. Essas ofertas estarão associadas à inovação tecnológica, expansão pela renovação de maquinário e digitalização, incluindo o uso de inteligência artificial e máquinas de aprendizado.
“A estratégia do governo para 2024 é fortalecer essas iniciativas, buscar formas de oferecer crédito para investimento, portanto, custo de capital menor, ofertas associadas à inovação tecnológica, à expansão pela renovação do maquinário, com fronteira de conhecimentos, especialmente com a digitalização, uso da inteligência artificial, das máquinas, da learning machine.”
O consultor sindical também menciona a presença de estruturas produtivas no território e a elaboração de políticas de desenvolvimento produtivo industrial. Essas políticas buscam nichos de expansão, especialmente nas áreas ambiental, energética, farmacêutica, alimentícia e turística.
Ao integrar a economia brasileira à economia mundial e ampliar as exportações de produtos manufaturados, o governo pretende promover a agregação de valor na produção interna, incorporando conteúdo nacional às diversas frentes de estruturação da capacidade industrial e de transformação.
“O Governo procurará sustentar a dinâmica de crescimento, integrando a nossa economia e a economia mundial, ampliando nossas carteiras especialmente de exportação de produtos manufaturados, promovendo a agregação de valor na nossa economia, na nossa produção no mercado interno, incorporando o conteúdo nacional às diferentes frentes de estruturação da capacidade industrial e de transformação.”
Ganz Lúcio conclui enfatizando que essas diretrizes serão essenciais para sustentar o esforço de manter uma taxa de crescimento, ampliar o PIB potencial e, simultaneamente, manter a inflação controlada, promovendo o aumento da renda do trabalho. O consultor acredita que essas estratégias contribuirão para a consolidação de um cenário econômico mais robusto em 2024.
“Diretrizes que vão sustentar um esforço para manter uma taxa de crescimento e fazer o nosso PIB, o chamado PIB potencial, ampliar sua perspectiva e, portanto, a sustentação de um crescimento econômico que mantém simultaneamente a inflação baixa e amplia a capacidade de aumentar a renda do trabalho.”
Crescimento em 2023 e projetos para 2024
Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese, também compartilhou suas análises e perspectivas para o futuro em entrevista ao Portal Vermelho. “Todas as previsões de 2023 estavam baseadas em uma visão bastante equivocada do que seria um terceiro mandato do presidente Lula.”
Ele argumentou que o plano de governo já indicava as ações que seriam implementadas. “A história dos dois primeiros governos do presidente Lula indicavam muito mais tranquilidade e menos instabilidade do que o mercado naquele momento percebia, ou pelo menos imaginava.”
O crescimento de 3% foi influenciado por diversos fatores, incluindo a performance destacada do setor agrícola no primeiro semestre. No entanto, Fausto ressaltou que a redinamização da economia também teve papel crucial, ocorrendo em paralelo à normalização da sociedade em meio às adversidades enfrentadas.
No tocante à inflação, foram implementadas mudanças na política de preços da Petrobras, restabelecimento de programas importantes vinculados à agricultura familiar, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Fausto destacou que essas medidas contribuíram para a queda da inflação de alimentos, beneficiando principalmente as camadas mais populares.
Contudo, o diretor técnico do Dieese apontou que o debate sobre investimento retorna à questão dos juros, que caíram aquém do necessário para estimular a economia. Ele ressaltou a importância de uma queda mais acelerada da taxa de juros, além das discussões em torno do novo arcabouço fiscal e a necessária reforma tributária. “O nosso maior problema, e aí sim já aponta para os problemas de 2024, é que o nosso investimento está muito aquém. Os juros caem muito aquém da necessidade, a gente precisava cair e ter uma queda mais acelerada da taxa de juros.”
Ao projetar o cenário para 2024, Fausto destacou que é um ano eleitoral, o que naturalmente impulsiona o crescimento, especialmente nos municípios. No entanto, ressaltou que é necessário lidar com o desafio do investimento aquém do ideal. Ele indicou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será central, representando uma potencial alavanca para mudanças estruturais significativas. “A maturação de uma série de projetos, do qual, sem dúvida, o PAC é o principal.”
Fausto concluiu enfatizando que 2024 é um ano de preparação e mudanças estruturais que podem levar o Brasil a um novo patamar de desenvolvimento econômico e social. “2024 é um ano de preparação, é um ano de mudanças estruturais que podem vir a, sim, normalizar no Brasil uma taxa de crescimento maior que colocaria o Brasil num patamar diferente no seu desenvolvimento econômico social.”
A discussão sobre investimento público e reformas, incluindo a ambiental, serão elementos-chave durante o próximo ano. A expectativa é de que essas mudanças possam consolidar e impulsionar um crescimento econômico ainda mais expressivo, levando o Brasil a um cenário diferenciado em seu desenvolvimento. “Inflação deve ficar controlada e crescimento econômico precisa se trabalhar muito para que a gente consiga dar um passo para além do que a gente possivelmente cresceu em 2023.”
Sem eira nem beira. Será? https://bit.ly/3Ye45TD
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