08 junho 2024

Urariano Mota opina

O Cine Olympia e a memória coletiva

Um breve texto sobre o Cine Olympia do Recife revela memórias coletivas e nostálgicas dos cinemas de bairro, mostrando sua importância na vida dos moradores.
Urariano Mota/Vermelho


 

Jamais poderia esperar que um breve texto, sem qualquer ambição, pudesse contagiar pessoas, como o que escrevi sobre o Cine Olympia do Recife. As respostas comoventes fizeram um diário público, uma autêntica memória coletiva sobre o Cine Olympia, no Arruda, e também sobre o Cine Império, em Água Fria. As manifestações, das quais seleciono poucas, quando deveria publicar todas, estão no grupo RECIFE DESCONHECIDO, do Facebook.

Até as 15 horas de 6/06/2024, o texto estava com 640 curtidas, 104 compartilhamentos e 165 comentários. Seleciono alguns a seguir para este mapa do sentimento suburbano de um cinema:

“Contasse sem saber a história da minha infância. Eu preferia o Império, por ser mais perto da casa dos meus avós. (Rua da Regeneração) em frente à garagem da Nápoles…

QUE LEMBRANÇA MARAVILHOSA! Eu morava em ÁGUA Fria pertinho. Era Cinema Olímpia e o Império. Que SAUDADE, MINHA MEMÓRIA PASSANDO O FILME, BONS TEMPOS. OBG…

Meu Deus, como é bom recordar as coisas que se foram e ficaram esquecidas pelo tempo! Parabéns, sempre é bom voltar nos tempos e mostrar à nossa garotada que éramos felizes e não imaginávamos! Época de ouro!…

Eu conheço bem esse cinema ao lado da sorveteria. Vi fazer e vi inaugurar. Rua 7 Pecados com Av. Beberibe, de frente à empresa de ônibus São Paulo no Arruda. Hoje só lembrança, estou surpreso com essa foto. Sou obrigado a parar, estou chorando. Tempo maravilhoso que jamais esquecerei…

Caiu um cisco nos meus olhos…

Tempos bons que não voltam mais. Cine Olympia aos domingos, espetacular. O Império muito bom, quando terminava a sessão, ia lanchar em frente ao cinema no abrigo, de seu Jaime, comer cachorro-quente com suco. Ao lado do abrigo ficava o terminal do ônibus elétrico, em frente à sucolandia. Tempo maravilhoso…

Eu e meus amigos pulávamos muro do Império, defendido bravamente por ‘Mané Grande’, velho segurança que, às vezes, nos suspendia pelas orelhas no caminho da rua. Frustrados por não ter assistido aos filmes impróprios para menores de 18 anos…

EU fui muito, pois ele ficava em frente da empresa Sao Paulo na Av Beberibe, lá no Arruda. E também tinha o Cine Império no centro de Água Fria, e o Cine Recife era lá em Ponto de Parada, e o Pompéia era na Estrada Velha de Água Fria. Eu tinha uns treze anos na época…

Fui às matinês de ambos os cinemas. Olímpia que ficava do Arruda perto do pátio da feira, era de boa categoria, o Império no largo de Água Fria, ambos na Av. Beberibe. Eu morava no bairro Cajueiro, ônibus da Empresa Pedrosa e depois Empresa Nápoles, churrascaria Coqueirinho. Foto Yara em frente ao mercado de Água Fria…

Eu Lembro Muito Dos Dois. Eu Morava Junto à Padaria Do Gaiao N. 1418, em Frente à Casa Funerária Sampaio. Tinha Vários Amigos Que Moravam ao Lado do Cinema, Ednilson, Tito, Carlinhos, Estudávamos No Alfredo Freyre. Professor Lucas. Tempo Bom…

Esse cinema era do meu avô paterno Orlando Teófilo de Carvalho Batista, nos idos da década de 50….

Morei em Água Fria, na Rua da Regeneração. Fui muito aos cinemas Império e Olímpia. Tinha q apresentar a certidão de nascimento, qd o filme era de 18 anos. Aos domingos, no calçadão do Império, ia jogar bafo, com figurinhas dos álbuns. Que tempo maravilhoso”.

Do hoje Doutor em Química Walter Rocha:

“Eu ia mais ao Império, melhor pra mim. Até os 11/12 anos morava no Alto do Pascoal, perto da confluência para o Alto Santa Terezinha, Alto do Deodato e descida pra Linha do Tiro. Descia a ladeira de pedra, dobrava na Estrada Velha e lá estava o Cine Império, com letras maiúsculas mesmo, era o máximo pra mim. Depois fui morar na rua do canal, esquina da ladeira de pedra, bem na esquina, era bem mais perto do Império. Dai fui morar na Rua do Triunfo, da Regeneração. Lembro que quando morava no Alto do Pascoal o dono da banca de revista bem pertinho do Império era um senhor negro que não tinha um dos braços, onde eu comprava gibis e figurinhas. As revistas de mulheres nuas ficavam escondidas, geralmente eram encomendadas. Um dos meus tios trabalhou na banca de revista e me mostrava essas revistas, francesas e americanas”.

Do sociólogo e cientista político José Antonio Spinelli em comentário sobre a localização do Cinema Queimado (que assim se chamava, pois havia sido queimado na revolução de 30):

“O Cinema Queimado ficava na esquina da Av. Beberibe com a Rua do Triunfo. Do outro lado, também numa esquina, ficava o consultório de João Dentista. Frequentei também os dois cinemas, o Olympia e o Império.”

Até atingir estes comentários de generosidade, dos quais não cito os nomes por não estar autorizado:

“Que texto! Muito obrigada…Texto lindo…”.
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Só me resta divulgar o que gerou memória coletiva sobre o cinema:

Ele ficava no Arruda. Pra quem não é do Recife (ou então é do outro Recife, da classe média da Boa Vista ou de Boa Viagem), o Arruda é o bairro mais vizinho e irmão de Água Fria.

Nos anos 60, o Cine Olympia competia com o Cine Império, inclusive nas matinês dos domingos. Nesses dias, os dois atraíam de modo irresistível nas séries. Pra vocês terem uma ideia, olhem só: enquanto no Olympia passavam os episódios do Capitão Marvel, no Império se exibia o Super-Homem (que não era o Superman de hoje). Olhem só a crueldade que jogavam para o dilema dos meninos: ambos heróis dessas séries voavam, o Capitão Marvel era de ferro, o Super-Homem era de aço. Então ficava difícil vencer uma discussão sobre quem era mais forte, se o homem de aço ou o homem de ferro.

Eu preferia o Olympia, porque ele possuía um pequeno zoo em seu jardim, e nele a feira de gibis (HQs hoje) era maior. Mas perguntava aos colegas que iam pro Império:

– Como foi hoje o Super-Homem?

Eles voavam na mentira.

– O Super-Homem salvou a mocinha do maior abismo do mundo. E parou um vulcão.

Ao que eu lhes acompanhava:

– O Capitão Marvel venceu um batalhão com um soco só! E fez a volta ao mundo em 5 minutos.

O pior mesmo, para os meninos que só possuíam o dinheiro da matinê, era sair do Olympia com uma fome excitada pelo cheiro do cachorro-quente à porta. Que delícia era aquele cheiro!

Foto: Cine Olympia, Bairro do Arruda, 1950s | Acervo Josias Monteiro (cinema que pertenceu ao seu avô)

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/09/retratos-fantasmas-o-filme.html

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