Nem
tudo está sob controle*
Luciano Siqueira
Embora a votação do pacote financeiro do governo no Congresso e a alta do dólar estejam no centro do noticiário, ainda perduram quentes e corrosivas as repercussões da prisão do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e companheiro de chapa de Jair Bolsonaro no último pleito.
Em nossa História, o primeiro oficial do Exército da mais alta patente encarcerado.
Mais: sob a acusação de haver atuado como pivô em trama golpista frustrada, que poderia ter resultado no assassinato dos candidatos eleitos Lula presidente e Alckmin vice e do ministro do STF Alexandre de Morais.
Os chefes das três Armas até optaram pela equidistância, evitando pronunciar-se além do reiterado respeito às instituições.
Porém é sabido que as corporações militares não são formadas para absorverem pacificamente evento dessa ordem. Afinal, além do indigitado Braga Netto, são mais de trinta oficiais presos.
Daí a hipótese de que a insatisfação seguiria queimando nos quartéis que nem fogo de monturo, envolvendo inclusive a oficialidade intermediária das três Armas.
As redes sociais refletem isso, ainda que através de vozes não exatamente fardadas.
Segue viva a tradição autoritária das Forças Armadas, principalmente a partir do golpe militar de 1964.
De outra parte, no campo das forças democráticas e em segmentos mais atentos da população se expressa certo regozijo. As instituições estariam fortalecidas, aos olhos de muitos.
Mas não é exatamente assim.
Atravessamos fase muito difícil, em que os chamados três poderes da República estão longe de uma relação harmônica entre si, como dita a Constituição.
O controle de parte substancial do Orçamento dá ao parlamento poder jamais alcançado, que exerce mediante maiorias de centro-direita e de extrema direita, tanto na aplicação de recursos de modo pouco republicano, como para obrigar a presidência da República a celebrar todo tipo de acordo sem o que matérias do interesse do governo sequer entram em pauta!
Também são evidentes e sequenciadas as escaramuças entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Nessas circunstâncias, do lado de cá da peleja redobrados devem ser os esforços tanto no sentido da compreensão exata do curso dos acontecimentos, como da renovação das relações com o conjunto da sociedade, o povo em especial.
A chamada trincheira da luta de ideias a cada instante mais necessária e mais exigente.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Leia: outro golpe militar? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/golpe-frustrado.html
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