09 dezembro 2024

Vietnã hoje

Vietnã: de campo de batalha a modelo de desenvolvimento
O modelo vietnamita desafia o receituário neoliberal ao reduzir a pobreza de 31,5 milhões em 1992 para 600 mil em 2020, sem abrir mão do controle estatal sobre setores estratégicos, como a terra e os recursos naturais
Lucas Toth/Vermelho   


O Vietnã tem inspirado o mundo com sua resistência ao imperialismo e aos dogmas do liberalismo econômico que assola a classe trabalhadora no mundo todo. Sob o regime comunista, o país virou referência mundial na erradicação da fome ao derrubar a taxa de pobreza de 70%, em 1975, para menos de 3% em 2022.

Após vencer grandes potências mundiais em duas guerras – primeiro contra a França, na Guerra de Independência, e depois contra os Estados Unidos, na Guerra do Vietnã – o país emergiu como um símbolo de determinação e recuperação, utilizando o modelo socialista.

Dados do Banco Mundial, revelam que, de 1992 a 2020, o Vietnã tirou mais de 30 milhões de pessoas da pobreza. O número de pessoas vivendo com menos de US$ 2,15 por dia caiu 98%, de 31,5 milhões para 600 mil, num período em que a população cresceu quase 40%, para 96,7 milhões.

Custo de vida

De 1992, quando começou a produzir a atual série estatística histórica sobre a pobreza, a 2020, número mais recente disponível, o Vietnã tirou mais de 30 milhões de pessoas da pobreza, de acordo o Banco Mundial. O número de vietnamitas vivendo com menos de US$ 2,15 por dia, em valores de 2017 ajustados pelo custo de vida do país, caiu 98%, de 31,5 milhões para 600 mil, num período em que a população cresceu quase 40%, para 96,7 milhões.

Em termos relativos, o contingente vivendo na pobreza também diminuiu de forma considerável, de 45,1% da população para 0,7% do total.  “O Vietnã liderou o caminho para os países de renda média baixa conseguirem uma redução rápida e sustentável da pobreza”, diz um relatório da ONU sobre o tema, publicado em 2023.

O país também comemora outras conquistas obtidas no campo social. A taxa de mortalidade de crianças de até 5 anos caiu para menos da metade desde 1990, de 52 em cada mil nascimentos para 21, segundo os dados do Banco Mundial. Ao mesmo tempo, entre 2000 e 2022, os serviços básicos de saneamento, que eram oferecidos a 50% dos habitantes do país, agora chegam a 92%

O governo vietnamita adotou estratégias que combinaram planejamento centralizado e reformas pragmáticas para impulsionar o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida da população. A virada começou com o Doi Moi (“renovação”), uma política de reformas econômicas iniciada em 1986. 

Diferentemente das transições neoliberais em outros países, o Vietnã não abriu mão do controle estatal sobre setores estratégicos, como a terra e os recursos naturais. Em vez disso, descentralizou a produção agrícola, permitindo que os camponeses cultivassem e comercializassem seus produtos, ao mesmo tempo em que o Estado continuava regulando o mercado e garantindo a redistribuição de riqueza.

Esse modelo permitiu ao Vietnã transformar-se em uma potência agrícola, especialmente na produção de arroz e café, tornando-se um dos maiores exportadores mundiais desses produtos. Essa capacidade de gerar riqueza foi crucial para financiar programas sociais, expandir o acesso à saúde e educação e melhorar a infraestrutura básica em áreas urbanas e rurais.

Investimento em saúde e educação

Outro pilar do sucesso vietnamita foi o investimento contínuo em saúde pública e educação universal. Desde a independência, o governo priorizou políticas para erradicar o analfabetismo e garantir que todas as crianças tivessem acesso à escola. Hoje, o índice de alfabetização no Vietnã ultrapassa 95%, e o sistema educacional é reconhecido como um dos mais eficientes da Ásia.

No campo da saúde, a implantação de políticas públicas focadas na prevenção de doenças e no acesso universal aos serviços médicos resultou em avanços significativos. Além de reduzir drasticamente a mortalidade infantil, o país conseguiu aumentar a expectativa de vida de sua população para 73 anos – um número comparável ao de países desenvolvidos.

Economia resiliente e inclusiva

Apesar das dificuldades impostas pelas sanções econômicas nas décadas de 1980 e 1990, o Vietnã diversificou sua economia, atraindo investimentos estrangeiros em setores como a manufatura e a tecnologia. Mas, ao contrário de países que abriram mão de sua soberania em troca de capital externo, o Vietnã manteve um modelo no qual as empresas estatais e cooperativas desempenham um papel central no desenvolvimento econômico.

Essa abordagem evitou os efeitos devastadores da financeirização que afetam muitas nações em desenvolvimento, como desigualdades extremas e desindustrialização. No Vietnã, o crescimento econômico caminhou lado a lado com a redução das desigualdades, mostrando que é possível prosperar sem sucumbir ao receituário neoliberal.

Leia mais sobre o Vietnã: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/04/vetna-vida-real.html

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