A eterna máxima dos “juristas”, em defesa dos juros
O artigo de 1999 foi replicado em 2005 e serve agora, em 2025. Isso mostra como, em temas determinados, só o calendário muda.
Luís Nassif/Jornal GGN
Vasculando meus arquivos, encontre esse artigo “ As máximas dos ´juristas ´”, de 2 de dezembro de 2005, na Folha, reproduzindo texto de 1999. Mostra como o discurso econômico brasileiro se fossilizou. Ou seja, o mesmo texto de 1999 se aplicava a dezembro de 2005 e se aplicava a julho de 2025.
Como é que se explica que, todas as partes da política econômica sendo certas, o resultado final tenha dado errado? Para ajudar no enorme esforço dos colegas de tentar explicar o fracasso, passando ao largo dos juros, tomo a liberdade de repetir um texto de março de 1999 sobre as máximas dos “juristas” (os adeptos dos juros altos em qualquer circunstância), com algumas adaptações.
Primeira máxima – “Em qualquer nível de atividade econômica, de inflação e de reservas cambiais, os juros sempre serão defasados em 20%.”
Segunda máxima – “Se o consumo cresce, a taxa de juros tem que ser alta para evitar repasse para preços. Se o consumo não cresce, a taxa de juros precisa ser alta para que ele continue não crescendo. Se não existe nem inflação nem consumo em alta, a taxa de juros tem de ser alta por alguma razão que não me ocorre no momento.”
Terceira máxima – "Se as reservas cambiais estão baixas, a taxa de juros tem de ser alta para que os dólares entrem. Se as reservas cambiais estão elevadas, a taxa de juros tem de ser alta para que os dólares não saiam."
Quarta máxima – "Se tem corrida contra o real, a taxa de juros tem de ser alta para contê-la. Se não tem corrida contra o real, a taxa de juros tem de ser alta porque é melhor prevenir do que remediar."
Quinta máxima – “Os prejudicados pelos problemas causados por uma política de taxas de juros juros altas são os adeptos da falhamania, que criam expectativas negativas, alertando para os problemas causados pela política de taxas de juros altas.”
Sexta máxima – "Se a política de taxa de juros alta quebra o país, o problema é com outro departamento. O meu só cuida dos juros."
Sétima máxima – "A culpa de uma política econômica que depende de uma meta inviável para ser bem-sucedida é da meta inviável. Depois que se mostrou inviável, meta inviável não tem pai."
Oitava máxima – “Política de juros conservadora é aquela que conserva o país quebrado.”
Nona máxima – “Todo gasto público não destinado a pagamento de juros é, por definição, “gastança”.”
Décima máxima – “Toda previsão econômica é absolutamente correta até nossa próxima retificação semanal.”
O biólogo e os dinossauros
Autor celebrado de um livro em que retoma os princípios da biologia para entender a economia, Eduardo Giannetti da Fonseca explora bem a irracionalidade intertemporal individual: o impulso que leva as pessoas a privilegiar um momento de bem-estar no presente, sacrificando o futuro.
Foido desafiar a aplicar sua lógica à política monetária. O que explica que, para garantir a tranqüilidade do mercado (e seu) no curto prazo, o Banco Central adota uma política de economia que, ao aumentar desmedidamente os juros, amplia o endividamento público a ponto de ameaçar o futuro?
Resposta de Giannetti: uma alternativa à política monetária atual seria a explosão do consumo, levando a inflação a sair de controle, a economia a se desorganizar, o fantasma da hiperinflação voltar a rondar o país.
É um economista-biólogo que acredita em dinossauros.
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Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html
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