30 julho 2025

Palavra de poeta

diáspora
Cida Pedrosa 

abro os olhos
e a quarta-feira é cinza

as taras da noite me perseguem
neste quarto de hotel

é bom acordar sem deus
descer a rua
e ver o mesmo flanelinha no ofício

diáspora
palavra que me segue
sem pedir perdão

sou retalho carne dilacerada
fragmento escuridão

abro as pernas no sinal
os carros passam
e o vento leva  pó para o meu rosto

a noite chega
a quarta-feira é cinza
e faz  tempo que me perdi de mim

[Ilustração: Childe Hassam]

Leia também: 'Publicação do corpo', um poema de Alberto da Cunha Melo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/palavra-de-poeta_6.html 

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