Marcos Freire, presente!
Certa vez, numa conversa com um jornalista amigo, editor de primeira página, ele nos explicava o porquê de grafar em caixa alta e em negrito uma palavra ou uma expressão, destacando-a das demais que compunham a manchete.
“É o mesmo princípio usado pelo professor Paulo Freyre em seu método de alfabetização de adultos, tem sempre uma palavra chave”, dizia. “Assim a gente desperta o interesse de leitores de diversos segmentos sociais, pois há palavras ou expressões, e também nomes de personalidades públicas, que têm, em si, muitos significados, porque marcam a vida das pessoas.”
E exemplificava: “carestia”, “liberdade”, “saúde”, “emprego”; “Pelé”, “Dom Helder”...
Ontem, durante a homenagem que se prestou a Marcos Freire em sessão solene na Assembléia Legislativa, a propósito dos vinte anos do seu falecimento, demo-nos conta de que o nome do ex-deputado e ex-senador do Grupo Autêntico do PMDB e ex-ministro da Nova República esteve durante cerca de duas décadas entre os que, à semelhança do arcebispo e do jogador de futebol, inspiravam – e ainda inspiram - leituras de densos significados.
De fato, para os que convivemos com Marcos Freire ou que simplesmente nele votamos, e mesmo para os que a ele se opunham, permanece a imagem de um homem público que inscreveu seu nome na História com brilho e coragem, como exemplar combatente na resistência ao regime militar e na luta pela redemocratização do país.
Para os presos políticos da Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, por exemplo, Marcos foi uma voz destemida que fazia ecoar no Congresso Nacional a denúncia de torturas e outras arbitrariedades que lhe fazíamos chegar às mãos através de nossos familiares. No parlamento e nas ruas, um paladino pela Anistia e pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte como meios de se restaurar o Estado de Direito.
Depois, como presidente da Caixa Econômica Federal e como ministro da Reforma Agrária, pôde revelar-se um gestor público capaz de promover mudanças de sentido avançado.
Ao discursar em nome da família, Marcos Freire Jr. foi muito feliz quando, após registrar passagens marcantes da trajetória de lutas do pai, assinalou: “Que no baluarte do imaginário popular possam existir figuras de políticos honestamente comprometidos com as causas populares. Que Marcos Freire ocupe um lugar de destaque nesse panteão, é a maior homenagem que ele pode receber. Ouvir das pessoas, quando saio do anonimato, o agradecimento e admiração que têm por ele é a certeza de que morrem os homens, mas não seus ideais.”
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