Dinheiro caro só é bom para banqueiro
Luciano Siqueira
Não sou especialista na matéria, mas é óbvio que crédito caro não serve a ninguém, salvo aos que negociam com dinheiro – os banqueiros. Na verdade, a rigor o setor rentista é o único que continua ganhando – e muito! – nesse amargo tempo de crise.
O governo tem adotado medidas anticrise em várias áreas, sempre visando a estimular a produção, o emprego e o consumo, no pressuposto (reconhecido internacionalmente) de que o país está entre os poucos emergentes na cena mundial em condições de sobreviver sem maiores agravos aos terremotos financeiros globais. O sistema produtivo não se desestruturou – salvo uma ou outra grande empresa que embarcou nos derivativos em busca de ganhos financeiros fáceis e se deu mal. As finanças púbicas continuam organizadas e relativamente saudáveis. Os bancos estatais atuam com presteza e consistência. O mercado interno, ainda pequeno para as dimensões do país, continua em expansão.
Mas um entrave terrível se ergue a toda tentativa de manter o nível das atividades econômicas: a política de juros. Não há setor da produção que se sinta estimulado a investir, mesmo com o respaldo governamental, diante de juros básicos dos maiores do mundo e de spreads bancários escandalosos. Isso a despeito das “queixas” públicas do próprio presidente Lula (e também da ministra Dilma). Nessa matéria, o Brasil continua claramente na contramão da tendência internacional. Países como a Alemanha, por exemplo, já praticam taxas de juros negativas.
Agora o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) anteontem trouxe à luz novos dados, contidos no estudo Transformações na Indústria Bancária Brasileira e o Cenário de Crise. Comparando-se o custo do crédito no Brasil e em outros países verifica-se que as taxas brasileiras são bem mais altas do que as cobradas no exterior: aqui o empréstimo para pessoa física chega a custar dez vezes mais do que em uma agência européia do mesmo banco.
Já quando se trata de pessoa jurídica, paga-se quatro vezes pelo empréstimo em comparação com o valor cobrado nos Estados Unidos e na Zona do Euro, indica o estudo.
Dá pra ficar passivo diante de um abusos desses? Claro que não. Por isso urge um esforço conjunto de entidades e instituições representativas de trabalhadores, empresários, setores técnicos responsáveis e da sociedade civil em geral no sentido de pressionar o Banco Central pela redução das taxas de juros. Em tempo hábil – enquanto ainda é possível salvar o país da débâcle geral.
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