Trajetória da ideia de Plano Nacional de Educação no Brasil
Demerval Saviani, no portal da
Fundação Maurício Grabois
No Estado Novo (1937-1945) o plano se converteu em instrumento para
revestir de racionalidade o controle político-ideológico da educação. No regime
militar se caracterizou como instrumento de introdução da racionalidade
tecnocrática na educação, modelo a que a era FHC se aproximou nos anos 1990.
Historicamente, no Brasil, a ideia de plano na educação remonta ao
“Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, de 1932. O conceito de plano
assumiu, então, o sentido de instrumento de introdução da racionalidade
científica na educação em consonância com o ideário escolanovista para o qual
os trabalhos científicos já nos faziam sentir que se pode ser tão científico na
educação como na engenharia e nas finanças.
Com esse entendimento a Constituição de 1934 incumbiu a União de fixar o
Plano Nacional de Educação, instituindo o Conselho Nacional de Educação, cuja
principal função seria a de elaborar o referido plano. Mas no Estado Novo
(1937-1945) o plano se converteu em instrumento para revestir de racionalidade
o controle político-ideológico da educação.
Entre 1946 e 1964 o plano educacional foi reduzido a instrumento de
distribuição de recursos para os diferentes níveis de ensino visando garantir
verbas públicas para escolas particulares. Assim, nossa primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20/12/1961, estabeleceu que com
nove décimos dos recursos federais destinados à educação seriam constituídos,
em parcelas iguais, o Fundo Nacional do Ensino Primário, o do Ensino Médio e o
do Ensino Superior, cabendo ao Conselho Federal de Educação elaborar o plano
referente a cada Fundo. Relatando o tema no CFE Anísio Teixeira arquitetou um
procedimento engenhoso para a distribuição dos recursos. Foi esse procedimento
que inspirou a criação, em 1996, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental (FUNDEF), orientação que foi mantida com a substituição do
FUNDEF pelo FUNDEB em dezembro de 2006.
A partir de 1964 o protagonismo do planejamento educacional se transferiu dos educadores para os tecnocratas com a subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento dirigido por técnicos oriundos das ciências econômicas, o que se explicitou na reforma do ensino (Lei 5.692/71) cujo artigo 53 refere-se a planos nacionais de educação atendendo às diretrizes dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs).
A partir de 1964 o protagonismo do planejamento educacional se transferiu dos educadores para os tecnocratas com a subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento dirigido por técnicos oriundos das ciências econômicas, o que se explicitou na reforma do ensino (Lei 5.692/71) cujo artigo 53 refere-se a planos nacionais de educação atendendo às diretrizes dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs).
Com o advento da “Nova República” foi editado, em 1993, o Plano Decenal
de Educação para Todos pautado na Declaração Mundial proclamada em1990 na reunião
de Jontien, na Tailândia. O foco central foi o ensino fundamental. Mas esse
plano praticamente não saiu do papel, tendo prevalecido, nesse período, uma
espécie de democratismo que pretendeu substituir o planejamento tecnocrático e
autoritário pelo polo oposto justificado pela descentralização, mas imposto e
mantido por mecanismos também autoritários.
Já o último PNE, que vigorou até 9/1/2011, resultou de duas propostas:
uma elaborada pelo MEC e outra gestada no II Congresso Nacional de
Educação. A proposta do MEC, visando à redução de custos, se revelou um
instrumento de introdução da racionalidade financeira na educação. A segunda
proposta, guiando-se pelo princípio da “qualidade social”, entendeu o plano
como um instrumento de introdução da racionalidade social na educação.
Em resumo, na década de 1930 pelo plano buscou-se introduzir a
racionalidade científica na educação; no Estado Novo revestiu-se de
racionalidade o controle político-ideológico da educação; com a LDB de 1961 se
converteu em instrumento de viabilização da racionalidade distributiva dos
recursos educacionais; no regime militar se caracterizou como instrumento de
introdução da racionalidade tecnocrática na educação; na Nova República sua
marca foi o democratismo com o que a ideia de introduzir, pelo plano, uma
espécie de racionalidade democrática, se revestiu de ambiguidade; finalmente,
na era FHC, o plano se transmutou em instrumento de introdução da racionalidade
financeira na educação.
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