Pedro Américo de Farias
(Para Jerusa
Pires, estudiosa do tema e Adiel Luna, cuja ancestral preocupação
com a memória me deu a idéia do poema)
Esquece a memória
explora o esquecimento
história remota poço fundo
pleno de pérolas depreciadas
à espera de que o esquecido
lembre delas com carinho
garimpa e apanha
virão em arcas de ouro da imaginação
libertas de catecismos e gramáticas
vade mecum de doutores
da medicina e do direito
dos manuais de estilística
estatística e boas maneiras
virão que eu vi em profusão de cores
na ponta da língua nas pontas dos dedos
virão combinadas palavras e ideias livres
do ar e da terra da água e do fogo
na bagagem de um deus travesso
pai da volúpia da criação
esquece a memória que te tortura
e lembra: o esquecimento guarda
e esconde mas não destrói
a arca perdida e desprezada
nela jamais podes te achar inteiro mas
em lúdico formato de um quebra-cabeças
invenção de Eros – deus astronauta
Foto: LS
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