Pelópidas Silveira maiúsculo
Luciano Siqueira
A visão de futuro e a permeabilidade do poder local à
participação popular formam binômio hoje mais presente do que nunca no debate e
no exercício do conceito e do modo de governar, sobretudo em cidades grandes e
de médio porte.
Nos anos 50 do século passado, o prefeito Pelópidas Silveira
– com impressionante pioneirismo - colocou a cidade do Recife na linha do
planejamento urbano e da gestão democrática.
Revelou descortino, capacidade de arrostar demandas
imediatas e concomitantemente pensar e agir sobre a cidade mirando o médio e o
longo prazo.
Feito notável, numa cidade que, polo de uma parte do
Nordeste, atraia contingentes crescentes de novos habitantes oriundos do
interior do estado e de estados próximos.
Uma cidade que “inchava”, no dizer de Gilberto Freire.
Mais: Pelópidas, como poucos, compreendeu o papel político
do governante, para muito além da gestão administrativa.
O prefeito governa, sua equipe de secretários e dirigentes
dos demais órgãos administra.
Governar é comandar a equipe de governo e exercer o papel de
líder de uma coalizão política e social. Com um pé no gabinete e o outro na
rua.
Assim, consagrado nas urnas por dois terços dos votos -,
eleito pela Frente do Recife (PSB-PTB-PTN mais o então clandestino Partido
Comunista do Brasil), na gestão de 1955 a 1959, Pelópidas começou a construir o
tríplice legado que agora reverenciamos, ao celebrarmos, a partir de ontem o
seu Centenário.
Pois o homem que planejou a cidade e realizou intervenções
urbanísticas estruturadoras que perduram até hoje como essenciais e estimulou a
organizações de Conselhos e Associações de Moradores e que debateu com o povo
os rumos do governo em assembleias no Teatro Santa Isabel em bairros
periféricos, foi também um líder político proeminente. Um político maiúsculo.
Ajudou a construir a Frente do Recife, por ela se elegeu
prefeito duas vezes e uma vez vice-governador.
Mesmo depois que se afastou de disputas eleitorais, até
praticamente a sua morte, em setembro de 2008 (aos 93 anos de idade), Pelópidas
fez-se interlocutor assíduo e influente das correntes políticas do campo
popular e democrático em Pernambuco. Sempre contribuindo para uni-las em torno
dos interesses do povo no horizonte político visível.
O discernimento, a capacidade de ouvir e de respeitar as
diferenças, a busca permanente do fio condutor do ajuntamento de forças fizeram
de Pelópidas a um só tempo um líder "plural", de sólidas convicções e
de inquestionável autoridade.
Belo exemplo a ser considerado nos dias que correm, no
Brasil e cá na província, em que num conturbado ambiente político impõe-se
distinguir o joio e o trigo, a arenga e busca sincera de soluções e a
arregimentação de partidos, lideranças e segmentos sociais ativos em defesa da
democracia e da consolidação e continuidade das conquistas recém-alcançadas no
País e em Pernambuco.
(Publicado no portal
Vermelho e no Blog de Jamildo/ne10)
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