Ameaça à liberdade de imprensa
Doutrinariamente, a imprensa é vista como o instrumento de defesa da
sociedade contra os esbirros do poder, seja ele o Executivo, outro poder
institucional ou econômico. Não se exija dos grupos de mídia a isenção. Desde
os primórdios da democracia são grupos empresariais com interesses próprios,
com posições políticas nítidas, explícitas ou sub-reptícias.
Por Luis Nassif, em seu
blog
Doutrinariamente, procuradores entendem que qualquer denúncia da
imprensa deve virar uma representação. Mas só consideram imprensa o que sai na
velha mídia. Doutrinariamente, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) criou um
grupo para impedir o uso de ações judiciais para calar a mídia. Mas só
consideram jornalismo a velha mídia.
Cria-se, então, um amplo território de impunidade para aqueles
personagens que se aliam aos interesses da velha mídia. E aí entra o papel da
nova mídia, blogs e sites, fazendo o contraponto e estendendo a fiscalização
àqueles que são blindados pela velha mídia.
No entanto, sem o respaldo do Judiciário, sem a estrutura econômica dos
grupos de mídia, blogs e sites independentes têm sido sufocados por uma
avalanche de ações visando calá-los. E grande parte delas sendo oriunda da
mesma velha mídia.
Quando a velha mídia se vale dessas armas contra adversários, não entra
na mira do CNJ.
Tome-se o meu caso.
Sou alvo de seis ações cíveis de jornalistas, cinco delas de jornalistas
da Veja, duas de não jornalistas. Os dois não jornalistas são os notáveis
Gilmar Mendes, Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e Eduardo Cunha,
presidente da Câmara. Além deles, sofro uma ação de Ali Kamel, o todo poderoso
diretor da Globo.
O que pretendem me sufocando financeiramente com essas ações?
Desde que se tornou personagem do jogo político, a Gilmar tudo foi
permitido.
Em meu blog já apontei conflitos de interesse – com ele julgando ações
de escritórios de advocacia em que sua mulher trabalha e de grandes grupos que
patrocinam eventos do IPD (Instituto Brasiliense de Direito Público).
Apontei o inusitado do IDP conseguir um contrato de R$ 10 milhões para
palestras para o Tribunal de Justiça da Bahia no momento em que este se
encontrava sob a mira do CNJ. E critiquei a maneira como se valeu do pedido de
vista para desrespeitar o STF e seus colegas.
De Eduardo Cunha, é possível uma biografia ampla, desde os tempos em que
fazia dobradinha com Paulo César Faria, no governo Collor, passando por
episódios polêmicos no governo Garotinho e no próprio governo Lula.
No governo Collor ele conseguiu o apoio da Globo abrindo espaço para os
cabos da Globo Cabo e dispondo-se a adquirir equipamentos da NEC (controlada
por Roberto Marinho). Agora, ganha blindagem prometendo impedir o avanço da
regulação da mídia.
Sobre Kamel, relatei a maneira como avançou na guerra dos livros didáticos
– um dos episódios mais controvertidos da mídia nos últimos anos, quando
editoras se lançaram nesse mercado para ampliar seus negócios.
Censurando os críticos, asfixiando-os economicamente, quem conterá os
abusos de Gilmar, de Cunha e de Kamel?
Há uma ameaça concreta à liberdade de imprensa nessa enxurrada de
ações.
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mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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