Um pungente depoimento
Hildegard Angel, No GGN
Que diferença da manifestação de ontem, na Cinelândia, daquela de domingo em Copacabana. Ah, e teve muito mais gente!
Que diferença da manifestação de ontem, na Cinelândia, daquela de domingo em Copacabana. Ah, e teve muito mais gente!
Não teve palavrão nem bordão obsceno gritado pelo alto falante, não teve
mulher pelada, nem pato, nem boneco inflado, muito menos cidadãos exóticos
fantasiados de Tio Sam ou soldado camuflado.
Não teve camiseta customizada, cada um vestiu o que tinha e foi como
pôde.
Não teve briga, ninguém tentou linchar menor de rua ou senhoras idosas;
não houve confrontos com skatistas, ninguém foi agredido por não vestir
vermelho.
Nenhum cidadão ao microfone xingou ou desejou a morte a qualquer figura
da oposição. Nem a chamou de “lixo humano” por pensar diferente. Enfim, foi uma
passeata responsável, séria, grave até, mas sem perder a ternura e a alegria.
Em vez de mantra baixaria, sambinha gostoso, sambas enredos que nos falassem à alma e ao brio da memória brasileira. Ao contrário de circo de excentricidade, uma passeata cívica, como em qualquer país civilizado. No lugar dos comícios de ódio, discursos inflamados pela causa justa da soberania.
Em vez de mantra baixaria, sambinha gostoso, sambas enredos que nos falassem à alma e ao brio da memória brasileira. Ao contrário de circo de excentricidade, uma passeata cívica, como em qualquer país civilizado. No lugar dos comícios de ódio, discursos inflamados pela causa justa da soberania.
Que diferença da manifestação de ontem, na Cinelândia, daquela passeata
de domingo em Copacabana. Ah, e teve muito mais gente!
Movimento da População de Rua; dos Petroleiros; da causa GLS; dos
estudantes; jornalistas lá, donas de casa.
Fui à Cinelândia somar-me aos milhares que bradaram “Não vai ter
golpe!”. Orgulho-me disso. Cumpri um dever cidadão. Espero que este grito ecoe
nos 3 Poderes, como demonstração de consciência cidadã, não apenas dos
cariocas, mas das centenas de milhares de São Paulo, Minas, Nordeste, Norte,
Centro Oeste, Sul, enfim, do Brasil inteiro, que saíram de suas casas, não em
nome de eleger candidatos, não movidos pela raiva, agente mobilizador muito
mais eficaz (os meios de comunicação sabem disso e têm feito seu trabalho
direitinho nesse sentido), mas por dever da responsabilidade cívica.
Fomos às ruas e praças por prezarmos a democracia duramente conquistada,
que, neste país, desde sempre, acontece aos barrancos e trancos, rondada por
manipuladores, a serviço dos grandes golpistas e saqueadores.
Verdade que, de saqueadores, estamos muito bem sortidos. Desde a
primeira pisada de Cabral na praia em Porto Seguro, usurpadores daqui e d’além
mar enchem seus cofres com nossas riquezas e o suor de nosso esforço. Porém, de
todos, o saqueador mais perverso é aquele que pretende nos negar a liberdade
democrática de escolha, o direito de o povo ver prevalecer a expressão de sua
vontade nas urnas.
O brasileiro responsável foi às ruas, também para exigir um imediato
“basta!” à massacrante e ininterrupta campanha deflagrada e mantida, meses a
fio, pela mídia e grupos indiferentes aos reais interesses soberanos do país,
sugando as energias do Brasil, exaurindo as mentes dos cidadãos, através de um
enredo escrito com as tintas da exacerbação golpista, para levar os brasileiros
ao paroxismo da ansiedade e do ódio.
Vimos que era chegado o momento decisivo, em que cada um de nós tem a
cumprir o papel de sua consciência. Por isso, estávamos ali, na Cinelândia.
Martha Alencar, a jornalista combativa dos anos 60 e de sempre, viúva de Hugo
Carvana, me disse, sentada em cadeira na calçada do Amarelinho: “Hilde, não
vinha aqui me manifestar desde aqueles anos, mas nesta tinha que estar”. Com
problema no joelho e bengala, Martha se levantava a qualquer movimento ou
burburinho, que invariavelmente terminava com o clamor em uníssono da multidão,
braços ao vento: “Não vai ter golpe!”.
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