Folha propõe uma guerra civil no Brasil
O editorial pornográfico da Folha
de S. Paulo divulgado neste domingo, propondo entre outras
aberrações cortes nos gastos orçamentários compulsórios com Previdência
Social, Educação e Saúde, ultrapassa qualquer limite em termos de
chantagem contra a Nação jamais praticada em nome das classes dominantes
brasileiras e de seus associados internacionais. De fato, o objetivo oculto por
trás da obsessão do orçamento equilibrado é atender aos interesses do setor
bancário e financeiro à custa do suor e do sangue dos brasileiros.
A Folha na
realidade está construindo as condições para a guerra civil no país. Ela prega
a ruptura não só da Constituição mas do que resta do pacto solidário construído
no Brasil desde a Era Vargas, e que resistiu inclusive à ditadura militar,
tendo sido consideravelmente ampliado na democracia. O editorial é o mais descarado
apelo ao retrocesso que as classes dominantes brasileiras jamais tiveram a
ousadia de propor. Não tem qualquer compromisso com os interesses reais da
população brasileira. É o enxovalhamento do povo.
Em grave crise financeira, a Folhachutou
o pau da barrada: perdido por um, pedido por mil. Talvez acredite que um novo
governo, qualquer que seja, trate financeiramente a Grande Imprensa ainda
melhor do que tem feito o atual. No seu nível de irresponsabilidade, empurra
milhões de pessoas para uma revolta contra as instituições, mediante a
sonegação de direitos básicos que pareciam irreversíveis. Sabemos perfeitamente
que uma guerra civil não começa como guerra civil. Começa com um estado de
pré-convulsão social, do tipo instigado pela Folha, vai para a convulsão,
depois para os atentados, depois para a guerrilha. Só depois vem a guerra. E é
quando os militares entram para por ordem na casa, a seu modo!
Diante desse ataque da direita radical empreendido pela Folha, e em face do derretimento das
instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças
progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na
base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não
picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a
construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e
cujas proposições concretas sejam levadas ao Governo para aplicação em
alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não
produtivo.
Em termos teóricos, nosso desafio é fazer a revolução
burguesa-industrial e a revolução social simultaneamente. A revolução burguesa,
sim, porque o sistema atual coloca a indústria como escrava de um sistema
financeiro de agiotagem que estrangula a capacidade de investimento, inovação e
expansão do setor industrial privado. A revolução social porque, se voltarmos
ao crescimento econômico, o que é perfeitamente possível, podemos não só
defender como expandir o estado de bem estar social como base da estabilidade
social e política do país.
O editorial da Folha é
um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos alternativas
promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de fazer superávit
primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias
norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A
norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do
PIB), do que resultou uma firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o
superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em
2010.
Não é esse déficit insignificante de 30 bilhões de reais,
usado pela Folha para chantagear o país e forçar o abandono do projeto social
brasileiro, que constitui um desarranjo da economia. O problema da economia é a
ausência de um programa de investimento público, mesmo que deficitário. O
déficit público de hoje, quando bem operado para investimentos em
infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e da receita amanhã. Em outras
palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há 80 anos a boa doutrina
keynesiana.
Se não conseguirmos construir um grande pacto social para
superarmos a crise econômica e política, e se em lugar disso, intimidado pela Folha, o Governo implementar um
programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço aonde
os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de
direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar
faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem
procurar ajuda: vão todos para a porta da Folha,
esperando que ela os reenvie para a proteção do sistema bancário!
*J. Carlos de Assis é economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do
recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo,
SP.
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