A dinâmica das alianças para outubro
Luciano Siqueira, no Portal Vermelho
Alguém de outras plagas,
habituado a composições partidárias mundo afora, ao se debruçar sobre as
alianças eleitorais em construção para o pleito municipal no Brasil certamente
experimentará estranheza.
Um calidoscópio, dirá.
É que se associam em torno de um mesmo projeto
partidos situados em campos opostos, nas esferas estadual e federal. Não há uma
linha de coerência entre as alianças, que assim não são verticalizadas.
Sequer o são nas eleições gerais, que a cada quatro
anos envolvem as instâncias federativas nacional e estadual. Coalizões em torno
de candidatura à presidência da República quase sempre não se reproduzem nos
estados, em função do poder local.
ertamente muitas variáveis concorrem para o
fenômeno. Da extraordinária diversidade regional e intra-regional que
caracteriza a sociedade brasileira à fragilidade do espectro partidário,
passando pela própria legislação eleitoral em vigor.
Não há partidos nacionalmente unos - salvo, talvez,
o PCdoB, em razão dos seus fundamentos teóricos e ideológicos. Não há agora,
nem jamais houve: desde o Império às diversas etapas da República.
E a legislação eleitoral reforça isso, na medida em
que - por exemplo - mantém o voto uninominal para cargos legislativos, à
revelia das legendas partidárias.
Países que adotam o sistema de listas preordenadas
pelos partidos induzem o eleitor a considerar programas partidários e a
escolher legendas, nas quais estão alojados os candidatos.
Por conseguinte, parlamentares eleitos guardam
compromisso programático em relação ao partido e ao eleitor.
Aqui, tudo conspira em favor da pulverização e do
enfraquecimento da instituição partido.
Mais: na multifacetada complexidade socioeconômica
e cultural brasileira, na disputa pelo poder local - Prefeituras e Câmaras
Municipais - há uma dinâmica própria, peculiar, que une ou separa partidos
políticos, independentemente do posicionamento na cena nacional e até estadual,
de um pleito ao subsequente.
Legendas que assumem posição conservadora em outras
esferas muitas vezes se colocam numa posição progressista face os desafios do
município.
Assim, nas démarches em curso, inclusive nas
grandes e médias cidades, visando à construção de alianças eleitorais para este
ano, cabe todo tipo de solução.
Daí não se dever encarar nenhuma situação com
gabarito, esquadro e régua. Antes, cabe examinar cada caso particular e buscar
as composições possíveis, combinando firmeza de propósitos com flexibilidade
tática.
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