13 novembro 2018

Trambicagem passageira


O monólogo cibernético não veio para ficar
Luciano Siqueira

Um sujeito inexpressivo, parlamentar bisonho há quase trinta anos, é escolhido por forças poderosas, disputa a presidência do maior país da América do Sul e ganha. E ainda sai com o galardão de ter vencido sem debater, nem explicar — inaugurando o monólogo quase monossilábico e primário como forma exclusiva de comunicação com os eleitores.

Um fenômeno!

Claro que esse cidadão, precisamente o capitão Bolsonaro, venceu principalmente porque havia um amplo espaço aberto em razão da confluência de fatores cujo vértice está no desgaste das instituições, dos partidos e das lideranças políticas em presença. 

Mas fica a fama de herói da manipulação das redes sociais e do aplicativo WhatsApp — de fato, outro fator igualmente decisivo para confundir milhões de eleitores e vencer as eleições. 

Como todo fenômeno político novo, logo ganha status de "modelo" a ser seguido, na esteira do imediatismo contumaz. 

Mais: preparando-se para governar, o dito cujo mal concede entrevistas, pronuncia-se através de transmissões ao vivo pelo Facebook e pelo Twitter.

Demonstra, assim, confirmar a sua confessa admiração pelo presidente Trump, dos EUA, em quem diz se inspirar. 

Então, Brasil e EUA, com toda a importância geopolítica dessas duas grandes nações, se vêem liderados por outsiders hábeis e espertos na exploração da oportunidade e na manipulação das consciências.

Tudo bem. Serão duas experiências que certamente ficarão na História como algo fora da curva e próprio de um instante de verdadeira crise civilizacional que assola a maior parte do Planeta.

Mas, para efeito imediato, essa moda pode pegar e em certa medida contaminar a prática política, pelo menos cá em terras tupiniquins, e o tão necessário contencioso de ideias, fator imprescindível à democracia, estará ofuscado pelo monólogo cibernético!

Quer saber o que pensa o presidente? Aguarde o próximo comunicado nas redes. 

O governador pretende anunciar suas primeiras medidas? Acesse o Facebook. 

O prefeito viajará a capital para tratar do programa de combate à estiagem? Veja no Twitter.

E assim por diante.

Ainda bem que a sociedade humana é muito mais complexa do que supõem os senhores manipuladores de algoritmos e a dita inteligência artificial, por mais eficiente que seja, jamais dará conta das necessidades, aspirações, sonhos e emoções de um povo.

Essa moda não pegará em definitivo, passará. 

A luta social e política em seu leito real (tendo as chamadas redes sociais como componente acessório) seguirá adiante — abrindo veredas por onde a nação e o povo possam se afirmar. 



Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2Ro4RtZ
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF

Nenhum comentário: