Subserviência explícita
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
"As palavras têm canto e plumagem", escreveu Guimarães
Rosa.
E o gesto, mais que as palavras, traduz emoções e vontades com
nitidez.
Sobretudo na cena política.
Ao sair de uma reunião na Casa Branca, em Washington, onde teria
dialogado com estrategistas do governo, um filho do presidente eleito exibiu
serelepe um boné alusivo à campanha de Trump.
A conversa do sr. Eduardo Bolsonaro com elementos do governo
norte-americano, segundo se registra, teria o duplo objetivo de tentar uma
aproximação pessoal entre os dois presidentes e de afinar o tom do combate
comum às forças progressistas na America Latina, além de reafirma a temerária
decisão de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para
Jerusalém.
Tudo muito esquisito.
A leitura óbvia é de um sinal explícito de subserviência.
Na contramão da transição a uma nova ordem mundial, que reclama postura
minimamente altiva e soberana das nações.
Desgraçadamente, no governo Bolsonaro o Brasil aprofundará o
realinhamento automático com os Estados Unidos, que vem sendo gradativamente
praticado desde que José Serra assumiu o ministério das Relações Exteriores no
início do governo Temer.
E sinaliza para o enfraquecimento do Mercosul e conflitos abertos com a
China é o mundo árabe.
Curioso que as tratativas na Casa Branca e a pantomina entreguista tenha
sido praticada por um filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, e não
pelo já escolhido futuro chanceler, o auto-denominado
“antiglobalista” Ernesto Araújo.
Mas isso não tem tanta importância, faz parte do estilo primário e
desencontrado que, parece, caracterizará o governo Bolsonaro.
Assim, a defesa da soberania nacional vai ser confirmado com o pedra de
toque da plataforma de resistência das forças democráticas e progressistas.
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