Porta
voz do capital financeiro vê instabilidade no Brasil
A
revista The Economist, porta voz do capital financeiro internacional, publicou
análise a propósito dos sinais de instabilidade política e institucional no
Brasil, sob o governo Bolsonaro. Copiei da edição de hoje do jornal O Estado de São Paulo. Há muitas lacunas na percepção da realidade, mas vale à pena
conferir.
Jair Bolsonaro ameaça a democracia?
The Economist
Em muitos fins de semana desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, os
apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizam manifestações em Brasília e
São Paulo, para demandar a reabertura da economia, parcialmente submetida a um
lockdown, o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso e o retorno
do regime militar dos anos 1964/1985. Alguns estão armados.
Em Brasília, Bolsonaro com frequência se junta a eles, distribuindo
abraços e apertos de mão e desafiando as regras de saúde estabelecidas. Nem ele
e nem as pessoas usam máscaras no rosto.
Desde que Bolsonaro, antigo capitão do Exército com ideias de direita,
assumiu o governo, em janeiro de 2019, muitos brasileiros temem a ameaça que
ele representa para a democracia. Alguns argumentam que as instituições do País
são fortes o bastante para freá-lo.
Na verdade, o presidente lotou o seu governo com oficiais militares. Mas
eles são vistos como tendo uma influência moderadora e as manifestações são
pequenas.
As tensões aumentaram nas últimas semanas. Bolsonaro se tornou mais
ameaçador, ao se dirigir ao Congresso afirmando que “o tempo da vilania acabou,
agora é o povo no poder”, e ao Poder Judiciário dizendo “acabou, porra!”.
Alguns ministros militares, a começar pelo vice-presidente Hamilton Mourão,
general aposentado, também fizeram ameaças veladas contra o STF, o Congresso e
a mídia.
Em uma mensagem pelo WhatsApp vazada no mês passado, o ministro do STF
Celso de Mello escreveu: “temos de resistir contra a destruição da ordem
democrática para evitar o que ocorreu na República de Weimar “que foi derrubada
por Hitler”.
“A democracia brasileira está sob uma grave ameaça”, diz Oscar Vilhena
Vieira, diretor da faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O
presidente não vem tentando apenas criar um conflito institucional, mas também
estimulando grupos violentos”.
Deputado durante 28 anos, Bolsonaro nunca mostrou muito respeito pela
democracia. E se tornou mais controvertido por duas razões. Em primeiro lugar,
o STF iniciou investigações que o envolvem.
Uma delas tem a ver com a destituição do diretor da Polícia Federal para
proteger um dos seus filhos contra um processo, afirmam seus críticos. E a
outra se refere a apoiadores (incluindo dois filhos dele) suspeitos de
orquestrarem acusações falsas e ameaças contra ministros do STF.
A segunda razão é que Bolsonaro mostra pouca capacidade para governar. A
pandemia amplificou isto. Sua recusa em apoiar os lockdowns e o distanciamento
social contribuíram para agravar a propagação da Covid-19, com o País
registrando hoje quase 40 mil mortes, o terceiro número mais alto do mundo. Ele
vem perdendo apoio popular embora mantenha uma base de 30% de eleitores. Um
sinal da sua fragilidade é que ele cada vez mais depende do Exército. Dez dos
seus 22 ministros são militares e outros três mil ocupam cargos no governo.
“Na verdade, temos um regime militar”, disse um oficial aposentado. E
isto representa um risco para as forças armadas e para a democracia. Bolsonaro
tem exacerbado a divisão interna e a politização do Exército, cuja disciplina e
hierarquia vêm se desgastando. Muitos oficiais de escalão inferior apoiam
Bolsonaro nas redes sociais. Quatro generais com cargos no governo, dois no
serviço ativo, têm mais poder do que o comandante das forças armadas, seu
superior.
O Exército também coloca em sério risco a sua reputação. Está hoje à
frente do ministério da Saúde (onde por um breve período tentou suspender as
publicações de dados completos sobre a Covid-19), da coordenação política e
proteção do Amazonas.
“Eles realmente acreditam que sabem como fazer as coisas”, diz um
ex-oficial. Eles poderão aprender da maneira difícil, como durante a ditadura,
que não sabem.
Bolsonaro não parece forte o bastante para desencadear um golpe. Ele
enfrenta oposição de muitos governadores. Embora o vírus tenha temporariamente
incapacitado o Congresso, Oscar Vilhena Vieira observa que o STF tem atuado de
uma maneira inusitadamente unida. Entretanto, “a democracia pode desaparecer se
você não tiver um homem forte”, alerta Matias Spektor, do Centro de Relações
Internacionais da FGV.
Se Bolsonaro acabar sofrendo um impeachment, Mourão o sucederá, trazendo
o Exército para ainda mais perto do poder. Uma outra ameaça, observa Spektor, é
o esvaziamento das instituições democráticas por Bolsonaro, como também a
instigação do conflito. Nomeou um procurador geral mais simpático a ele e tem
influência sobre as forças de polícia estaduais, como também sobre a Polícia
Federal. Uma batida policial silenciou o governador do Rio de Janeiro, que
recentemente começou a criticá-lo.
Os democratas brasileiros, seus adversários, começam a reunir uma
oposição ao presidente. E estão certos em ficar alarmados. Bolsonaro tem
exacerbado a divisão interna e a politização do Exército, cuja disciplina e
hierarquia vêm se desgastando.
Veja: Barrar Bolsonaro é possível https://bit.ly/2MwcqOP
Nenhum comentário:
Postar um comentário