A frente ampla e o fogo de monturo
Luciano Siqueira
No exercício das minhas funções de
governo sempre procuro combinar o trato de problemas administrativos com o acompanhamento
da cena política nacional.
Quem governa, administra e lidera ao
mesmo tempo.
E os problemas da cidade são
indissociáveis da cena nacional – sob muitos aspectos.
Ontem, numa reunião com a equipe do meu
gabinete, veio à tona a questão da frente ampla. Ou seja: a conjugação de
forças sociais e políticas insatisfeitas com o governo Bolsonaro e, sobretudo,
decididas a barrar as suas ameaças crescentes ao Estado Democrático de Direito.
O pressuposto é que o acelerado
isolamento político do presidente - encalacrado no insuficiente apoio da faixa
da população estimada em torno de 30%, que o segue acriticamente – pode ter
como corolário uma oposição capaz de barrar suas pretensões golpistas.
Meus companheiros de trabalho, esperançosos
de que isto venha a acontecer logo, questionaram: quando a frente ampla será “oficialmente”
constituída? Que programa adotará?
Na prática, nunca é possível antecipadamente
estabelecer data e hora para uma concertação de forças dessa magnitude. Há um
processo cumulativo.
Nos últimos três meses, várias conjurações
frentistas têm se estabelecido. Da articulação de governadores para
enfrentamento do coronavírus e para resistirem às agressões do presidente da
República aos diversos movimentos que têm lançado manifestos em defesa da democracia.
O Primeiro de Maio Unificado, promovido
pelas principais centrais sindicais, com a presença de personalidades e lideranças
políticas de expressão e de correntes políticas diversas, por si mesmo foi uma
importante iniciativa em favor da frente ampla.
Em nossa História, frentes políticas e sociais
dessa dimensão nunca são um ponto de partida, são um ponto de chegada. Culminam
uma determinada fase da luta política.
A Aliança Democrática, que derrotou a
ditadura militar no colégio eleitoral, aconteceu assim.
De outra parte, Bolsonaro e seus apoiadores
reagem. A busca de alianças pontuais com parcelas do chamado “centrão” é uma
tentativa de reduzir seu isolamento político e se prevenir para a hipótese de
um processo de impeachment.
O confronto entre esses dois campos
opostos se dá diariamente, de modo aparentemente morno ou abertamente agudo. Perpassa
a crise institucional, configurada no conflito permanente entre a Presidência
da República e o Congresso e o STF.
Os que se batem pela frente ampla, entrementes,
vão acumulando elementos de entrosamento e de formatação de uma plataforma
emergencial que dê uma saída eficaz para a crise sanitária, econômica e político-institucional.
O ritmo de tudo depende em boa parte de
fatores objetivos, especialmente da dimensão dos impasses econômicos e da
desgraça social, que queimam feito fogo de monturo na base da sociedade.
Barrar Bolsonaro é possível https://bit.ly/2MwcqOP
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