Tem um cachete aí?
Luciano Siqueira
Um médico amigo confidenciou
seu desconforto com pacientes que chegam ao consultório com diagnóstico “antecipado”.
Como assim?
O cara sente uma dor
abdominal que lhe parece atípica ou imagina palpitações e corre ao Google para
pesquisar. Por conta e risco chega rápido a uma conclusão.
Pela própria conta, sim;
risco, nem tanto. Prefere ir ao médico.
- Doutor, eu tenho uma
arritmia cardíaca, devo tomar o quê?
- Você foi ao cardiologista?
- Não, fiz uma pesquisa na
internet...
O colega diz que incorporou uma
dose extra de paciência entre os atributos do bom clínico para lidar com gente
assim. Afinal, o Google existe e a turma vai a ele antes...
Mas muitos desses cidadãos,
digamos, autossuficientes completam o ciclo: se automedicam.
Os hipocondríacos, sobretudo.
Como um ilustre personagem da
cena política pernambucana de quem dizem ligar costumeiramente para a farmácia
de sua preferência para saber das “novidades”, ou seja, quais os novos
medicamentos lançados no mercado e para que servem.
Ao saber que tal droga
combate dores articulares e em comprimidos tamponados não agridem a mucosa
gástrica, por exemplo, antes mesmo de desligar o telefone sente os sintomas. Daí
a mandar buscar os cachetes na farmácia é questão de segundos...
Aliás, cachete é uma
expressão muito popular no interior. Mais do que comprimidos ou drágeas.
Certa vez um grupo de
estudantes de medicina da UFPE se instalou temporariamente numa fazenda do
interior da Paraíba, como em “comunidade”, e passou a conviver com
trabalhadores da propriedade.
Ao saberem que se tratava de “doutores”, os camponeses os procuraram com suas doenças.
Então, nossos heróis e heroínas
se viram diante de uma oportunidade rara de prescreverem chás e outras mezinhas,
à guisa de medicação “natural”.
- Isso não, a gente já sabe e
tá acostumado a tomar. A gente quer mesmo é cachete, reclamaram os moradores do
lugar.
Em sentido contrário, uma
jovem mãe de primeira viagem me abordou preocupadíssima porque um pediatra
prescrevera amoxicilina para seu filhinho de poucos meses de vida, acometido de
uma bronquite provavelmente bacteriana.
- Dizem que antibiótico
prejudica os ossos e faz muito mal no futuro!
E assim caminha a Humanidade.
Uns em busca de medicamento “de laboratório”, outros com receio da ciência.
Nem tanto ao mar, nem à
terra.
E a vida segue.
Veja: Há sempre modos de
contornar dificuldades. Basta querer https://bit.ly/2TatLA8
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