Na cúpula do clima, sob cerco
Luciano Siqueira
No segundo governo Dilma,
configuradas as dificuldades de gestão da economia e uma correlação de forças
extremamente adversa no Congresso, os tucanos proclamaram a palavra de ordem “fazer
a presidenta sangrar” até o fim.
O fim, no caso, tanto poderia
ser a inviabilização do governo, como de fato aconteceu, como a geração de um
ambiente propício ao impeachment, que também aconteceu.
Passados mais de dois anos
dessa coisa horripilante que é a gestão do presidente Bolsonaro, ninguém ainda usou
a expressão “sangrar”, porém o desenrolar dos acontecimentos leva a algo
parecido.
Com uma peculiaridade: o
próprio presidente cria continuadamente situações que levam ao impasse do
governo.
A resultante é o desenho
estapafúrdio de uma governança inoperante e atabalhoada em todas as dimensões.
E um chefe de Estado
rejeitado pela maioria dos brasileiros e visto na cena internacional como uma
prejura política digna da mais inexpressiva republiqueta.
E é nessa condição que Bolsonaro
falou agora na Cúpula do Clima, convocada pelo presidente norte-americano Joe
Biden, da qual participam governantes de vinte países.
Disse ele: “A pesar das limitações orçamentárias do governo,
determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos
destinados às ações de fiscalização".
Não se sabe
se alguma alma viva presente ao conclave deu sinais de acreditar nisso.
A prática
tem sido escandalosamente inversa.
Há uma espécie
de “liberou geral” na exploração dos nossos recursos naturais, na Amazônia e em
outras áreas, concomitantemente com o enfraquecimento da legislação pertinente
e o desmonte das estruturas institucionais afins.
Mas o
ex-capitão não tem a menor cerimônia ao sublinhar, em seu pronunciamento, que o
Brasil "está na vanguarda do enfrentamento do aquecimento global".
Vanguarda do
retrocesso, só se for.
Mas essa é tônica
de toda e qualquer fala de Bolsonaro – seja em cerimônias como a de hoje, seja
nos seus costumeiros encontros nada casuais com claques de apoiadores postadas
diante do Palácio da Alvorada: a verdade é acoitada sempre.
Assemelha-se
ao comandante de um exército que, mediante prolongada guerra, vê-se a cada dia
sob cerco, perde gradativamente suas linhas de suprimento e já não tem como
atrair hipotéticos aliados para resistir.
Inapelavelmente
perderá a guerra. No caso, não se sabe ainda se no pleito presidencial de 2022
ou antes.
.
Veja: Jovem
aos 99 anos: destaque em nossa história política https://bit.ly/3wfzW8u
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