Melhorou a qualidade, e
aumentaram as esperanças do Brasil na Copa
Ascensão de Paquetá e de pontas hábeis mudou
perspectiva da seleção
Tostão, Folha de S. Paulo
O futebol é, às vezes, contraditório. Por mais que
valorizemos o desempenho das equipes, o resultado é a alavanca, a referência,
nas análises do jogo. O espetáculo de grande qualidade é consequência do futebol bem jogado. Não é a premissa.
Quando um time ganha, tudo é exaltado, até os erros. Quando perde, o clube é
criticado, até as virtudes.
Por outro lado, alguns resultados ocorrem por detalhes
inesperados. Atlético, Flamengo e Palmeiras, as três melhores equipes
brasileiras, fazem jogos equilibrados entre eles. A vitória, às vezes, acontece
em momentos surpreendentes, como no pênalti perdido por Hulk e nos erros do
zagueiro Nathan Silva, do Atlético, e de Andreas Pereira, do Flamengo, na conquista da última Libertadores pelo
Palmeiras. Nada disso diminui a qualidade individual e
coletiva e a seriedade profissional do Palmeiras. Por muito pouco, ganha-se e
perde-se. O futebol é o retrato da vida.
Outro
fator determinante nas avaliações é a expectativa que, muitas vezes, não
combina com a realidade. Palmeiras, Atlético e Flamengo estão no mesmo nível.
Porém a exigência e a expectativa em relação ao Flamengo são maiores, por causa
da exuberância do
futebol mostrado em 2019, ainda mais que o elenco é praticamente o
mesmo. O Flamengo ganhou o Brasileirão de 2020, e o técnico
Rogério Ceni foi demitido.
A
expectativa com a seleção brasileira é enorme, a de ser sempre campeã e de
encantar, por causa do passado e do tão falado futebol-arte, mesmo considerando
o 7 a 1, os últimos 20 anos sem ganhar um Mundial e a ausência, na última década,
de um supercraque, com exceção de Neymar, do nível dos melhores do mundo.
O
Brasil, na vitória por 4
a 0 sobre o Chile, despediu-se do Maracanã e
dos estádios brasileiros até a Copa do Qatar. Isso me faz lembrar 1970, quando
a seleção venceu a Áustria por 1 a 0, também no Maracanã, antes de viajar para
o México. Os torcedores aplaudiram o time brasileiro. Pela primeira vez, fui
escalado como titular por Zagallo.
Antes
da partida contra o Chile, a grande expectativa era a escalação de Neymar mais
à frente, formando dupla com Paquetá.
O Brasil teve uma ótima atuação. Neymar, que joga com a camisa 10, não foi o
9 nem o falso 9. Foi um atacante, mais próximo ao gol, "com
liberdade criativa", como disse Tite. Caracterizar um jogador pelo número
da camisa e pela posição já era ultrapassado nos anos 1970.
Uma
das razões da queda técnica de Neymar,
após sair do Barcelona, foi querer ser o dono do time, o construtor e o
artilheiro, o arco e a flecha. Recuava demais para receber a bola no
meio-campo, muito distante do outro gol. Contra o Chile, ao contrário, driblou,
passou e finalizou perto da área adversária.
A
presença de dois pontas dribladores, rápidos e abertos alargam o campo e
aumentam os espaços pelo centro. Faltou a Paquetá jogar mais próximo de Neymar e
alternar com ele o posicionamento. Obviamente, será importante ter um clássico
centroavante como opção.
Receio
apenas que, contra fortes adversários, que priorizam a troca de passes e o
domínio da bola no meio-campo, o Brasil, com pontas abertos e uma grande
distância entre os dois volantes (Casemiro e
Fred) e os dois atacantes, deixe muitos espaços no setor.
No
último ano, por causa da ascensão de Paquetá e de pontas rápidos e hábeis, como Vinicius Junior,
Raphinha e Antony, melhorou a qualidade e aumentaram as esperanças e as
expectativas do Brasil na Copa.
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Veja:
“Heróis” efêmeros – a verdade está triunfando https://bit.ly/3JMFZHT
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