Saiba quem pode fiscalizar e auditar as
Eleições 2022 e como esse trabalho é feito
Pleito
de outubro tem novos órgãos fiscalizadores e outras novidades
Gabriela Guiraldelli, CNN
Há 70 dias da realização das eleições de 2022, surgem questionamentos sobre
a transparência na contagem de votos e segurança das urnas eletrônicas e de como é feita a
fiscalização do processo eleitoral.
Parte desse trabalho foi instituído na Lei da Eleições de
1997, que permitiu aos partidos políticos e coligações – e federações
partidárias, a partir desse ano – a fiscalização de todas as etapas de votação
e apuração das eleições.
Desde o ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou
resoluções para ampliar o rol de entidades e órgãos fiscalizadores do processo
e incentivar as chamadas Missões de Observação Eleitoral Nacional (MOE). Esta
eleição também deverá contar com um número recorde de missões de observadores
internacionais – estão previstas sete, segundo o TSE.
Veja como é feita a fiscalização e auditoria
das urnas e quem pode realizar esse trabalho.
Quais as etapas de auditoria?
São mais de dez etapas de fiscalização e
auditoria do sistema eletrônico de votação no país, regulamentadas pela
Resolução nº 23.673 do TSE, de 2021.
As fases envolvem o antes, o durante e o
depois da votação. A primeira vai desde o desenvolvimento dos programas
eletrônicos usados nas urnas até a lacração dos sistemas eleitorais. Os órgãos
e entidades fiscalizadores têm acesso aos códigos-fonte um ano antes das
eleições e podem acompanhar todo esse processo.
Depois da assinatura digital e lacração das
urnas, acontecem as cerimônias destinadas à geração de mídias e preparação das
urnas eletrônicas. Por definição do glossário eleitoral do TSE, gerar mídia
significa que “os softwares desenvolvidos pela Justiça Eleitoral para as urnas
– que devem ser alimentadas com os dados eleitorais específicos daquele pleito,
como os nomes dos respectivos candidatos – serão gravados nos flash cards e nas
mídias de resultado”.
Flash cards são pequenos cartões de memória
usados para gerar três tipos de mídia: carga, votação e contingência. A
primeira é responsável por inserir na urna eletrônica as instruções de
funcionamento, enquanto a mídia de votação fica instalada na máquina e grava
todas as operações realizadas. A mídia de contingência é usada para dar carga
na urna que substitui a que apresentou defeito.
Na cerimônia de assinatura e lacração são
registradas a quantidade de mídias de carga e de votação e também os nomes dos
técnicos responsáveis pela operação. São auditados também os sistemas
destinados à transmissão dos Boletins de Urna (BUs).
Posteriormente, são feitos os testes de
integridade e autenticidade dos softwares desenvolvidos para o processo
eleitoral. O primeiro consiste, resumidamente, em conferir se o voto recebido é
exatamente aquele que está sendo contabilizado.
A última fase da fiscalização se inicia após
o término da contabilização dos resultados das eleições, onde são verificados
relatórios e cópias de arquivos de sistema.
Quais são as entidades fiscalizadoras?
A Lei das Eleições estabeleceu que partidos
e coligações partidárias podem participar de todo o processo eleitoral, da
votação à apuração dos resultados. Também permitiu aos partidos políticos
contratarem empresas privadas de auditoria de sistema. Segundo a lei, essas
auditorias podem usar os programas de computador do TSE e acessarem os mesmos
dados do sistema oficial de apuração e totalização dos votos.
Essas empresas devem possuir um vínculo
contratual anterior e já constituído com um determinado partido para se
credenciarem junto ao TSE. É obrigatório que eles comprovem ter capacidade
técnica e estrutura para fiscalizar e apurar os resultados.
Com a aprovação da Resolução nº 23.673 do
TSE, ampliou-se o rol de entidades fiscalizadoras.
A partir de então, são considerados entidades fiscalizadoras das eleições
diversos órgãos do Estado, como: Ministério Público; Congresso Nacional;
Supremo Tribunal Federal (STF); Controladoria-Geral da União (CGU); Conselho
Nacional de Justiça (CNJ); Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP);
Tribunal de Contas da União (TCU); Polícia Federal; e Forças Armadas.
As entidades de classe incluídas foram a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Sociedade Brasileira de Computação
(SBC), o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), junto com os integrantes do chamado “sistema S” –
dentre eles, o Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai).
Desde que credenciados junto ao TSE, a
resolução também permite que sejam fiscalizadores os departamentos de
Tecnologia da Informação de universidades e entidades privadas brasileiras sem
fins lucrativos com notória atuação em fiscalização e transparência da gestão
pública.
O que são as Missões de Observação Eleitoral?
Outra novidade para este ano são as chamadas
Missões de Observação Eleitoral Nacional Eleitorais (MOE), regulamentadas pela
Resolução nº 23.678 de 2021. Por definição, os observadores eleitorais são
responsáveis pelo acompanhamento e pela avaliação das eleições periódicas,
suplementares e de outros processos que impliquem decisões políticas dos cidadãos
– como consultas populares de caráter nacional, estadual e municipal. Eles
devem garantir a integridade e efetividade do processo eleitoral.
Segundo o TSE, estão aptas as entidades:
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD); Associação Nacional
das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep); Associação Juízes para a
Democracia (AJD); Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE); Sociedade
de Ensino Superior de Vitória (Faculdade de Direito de Vitória – FDV);
Transparência Eleitoral Brasil; Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj); e Universidade de São Paulo (USP).
Pessoas físicas não podem ser observadores;
apenas entidades, organizações da sociedade civil e universidades de ensino
superior podem participar. Como observadores, eles vão fiscalizar o cumprimento
das normas e verificar a imparcialidade e organização das diversas fases do
pleito.
Para participar, as organizações precisavam
se cadastrar no TSE até 5 de julho. As atividades podem durar até 19 de
dezembro, que é a data estabelecida pelo calendário eleitoral para diplomar os
representantes eleitos em outubro.
Leia também: Em busca de
uma reeleição improvável, os muitos remendos de um barco furado https://bit.ly/3akDj7Q
Entre os objetivos, estão: observar o
cumprimento das normas nacionais; colaborar para o controle social nas
diferentes etapas do processo e verificar a imparcialidade e a efetividade da
organização, direção, supervisão, administração e execução das diversas fases
do pleito. De forma geral, eles possuem liberdade para falar com a sociedade
civil, ir a seções eleitorais no dia da votação, visitar áreas do organismo eleitoral,
conversar com a imprensa, entre outras atividades.
Além disso, é necessário que os interessados
estejam legalmente formados há pelo menos um ano antes da data das eleições e
comprovem a experiência, estrutura e capacidade técnica para desempenhar a
observação. Ao final do período eleitoral, as missões de observadores nacionais
divulgam relatórios sobre o processo eleitoral.
O que são os observadores internacionais?
Os observadores internacionais integram as
Missões de Observação Eleitoral Internacional e têm o mesmo papel que os
nacionais. Instituições, centros ou organismos internacionais são os
responsáveis por exercer a função. Segundo o TSE, o pleito eleitoral deste ano
contará com o maior número de observadores internacionais – estão previstas
sete missões.
Orgãos reconhecidos internacionalmente pela
imparcialidade e compromisso podem ser convidados por um país para fazer uma
análise do sistema eleitoral ou focar em alguns pontos específicos.
Para que a missão internacional alcance os
seus objetivos de colaborar com o aperfeiçoamento do sistema eleitoral de um
país e ajudar a fortalecer a democracia, um acordo é assinado meses antes da
realização da eleição pelos dois lados – um deles, o país que convidou os
observadores. Ao final do processo, o órgão participante também deve divulgar
um relatório da missão, normalmente no site oficial e por meio da imprensa.
Para as eleições deste ano estão confirmadas
as seguintes entidades: missão de observação eleitoral da Organização dos
Estados Americanos (OEA), o Parlamento do Mercosul (Parlasul) e a Rede
Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Ainda de acordo
com o TSE, estão na fase final de acordo para a vinda de representantes das
organizações norte-americanas Carter Center, International Foundation for
Electoral Systems (Ifes), Unión Interamericana de Organismos Electorales
(Uniore) e a Rede Mundial de Justiça Eleitoral.
Qual a diferença entre observadores internacionais e convidados
internacionais?
Diferentemente das missões internacionais,
que são compostas por órgãos convidados pelo país para participar de todo o
período eleitoral, os convidados são pessoas físicas – autoridades eleitorais,
especialistas no tema, ex-chefes de Estado etc.
A finalidade de convidá-los se deve principalmente
para cooperação e troca de informações. Eles chegam ao país apenas na semana
das eleições e normalmente participam de um curso oferecido pela autoridade
eleitoral local, no qual são explicadas questões de interesse da agenda
eleitoral e internacional, como combate à desinformação, participação das
mulheres na política, segurança, forma de votação, financiamento de campanha e
prestação de contas.
No dia do pleito, eles acompanham a votação,
vão às sessões e ao órgão eleitoral. Não há acordo firmado entre as partes e
nem um compromisso de entregar um relatório final. O objetivo da visita é para
que um país conheça melhor os sistemas eleitorais e avaliar o que pode adotar
de semelhante.
Assim como o Brasil convida autoridades
estrangeiras para acompanhar o processo eleitoral e assegurar a integridade e
transparência das eleições, o país também já teve personalidades renomadas
convidadas por outros países. Foi o caso do ex-presidente do TSE e ministro do
STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, que acompanhou as eleições
norte-americanas em novembro de 2020 e, em junho do ano passado, esteve no
México para exercer o papel de observador convidado.
Veja: O inferno astral de Jair
Bolsonaro https://bit.ly/3Pf8TTy
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