Com que lentes vamos
fazer a leitura das eleições no segundo turno em Pernambuco?
Ana Magalhães*
Gostaria de trazer minha reflexão como cidadã, servidora pública, feminista e militante política sobre as eleições nesse segundo turno.
Participei ativamente da campanha da chapa majoritária da Frente Popular de Pernambuco, composta pelo PSB, PT, PCdoB, PDT, PV, dentre outros partidos, tendo como candidato a governador Danilo Cabral. Algumas pesquisas indicavam o empate técnico entre 4 candidatos para a disputa no segundo turno com Marília Arraes, apontada em todas as pesquisas como a primeira colocada.
A trágica morte na manhã do dia 02/10, do companheiro de Raquel Lira, acompanhada de grande comoção da população, contribuiu, significativamente, segundo várias análises, para o resultado eleitoral, levando ao segundo turno a disputa entre duas mulheres: Marília Arraes e Raquel Lira, fato por si só inédito na história de Pernambuco.
Independentemente
de sua filiação partidária ou militância em movimentos sociais, avalio que seja
consenso entre nós que essas eleições são as mais importantes das nossas vidas
pois está em jogo a democracia, o Estado Democrático de Direito, a soberania
nacional.
Bolsonaro é o candidato da extrema direita, representante do neonazifascismo, que usa a mentira e a indústria de notícias falsas como método e prática de campanha eleitoral num país destroçado com 33 milhões de brasileiros passando fome. Um país desindustrializado, com 15 milhões de desempregados e desalentados, sem direitos sociais básicos previstos na CF 88, tendo em vista que as políticas públicas foram desestruturadas. Um país que teve como resultado desses quatro anos de governo a promoção da cultura do preconceito, da homofobia e misoginia, do racismo, da criminalização da política, da divisão da população, dentre outras mazelas.
Diante desse quadro dramático da realidade nacional, a candidata Raquel Lira recebe de pronto o apoio de candidatos e lideranças políticas bolsonaristas e da extrema direita em Pernambuco e se posiciona pela neutralidade em relação às candidaturas de Lula e Bolsonaro, reafirmando com veemência, diariamente, que o seu compromisso é com a população buscando o voto através do apelo à compaixão do eleitorado pela morte do seu companheiro.
O
quadro político vai ficando mais turvo à medida que lideranças políticas que
transitam no campo democrático e popular passam a declarar apoio à candidatura
de Raquel, numa visão míope do centro maior do debate e divisor de águas como
chamamos na política.
Faço
aqui alguns questionamentos para o embasamento do meu posicionamento político
em relação às candidaturas de Marília Arraes e Raquel Lira:
1. Como
uma candidata ao governo de Pernambuco pode se eximir de um posicionamento
político entre as candidaturas de LULA e BOLSONARO num momento tão grave pelo
qual o país passa?
2. Que
avaliação a candidata Raquel Lira faz do rebatimento da reeleição de Bolsonaro
para o país e para Pernambuco?
3. Como
Raquel Lira garantirá a implementação de suas promessas eleitorais e o
desenvolvimento econômico, social e cultural de PE?
4. Como
resolverá os problemas cruciais enfrentados pelos municípios e pela população
pernambucana com a reeleição de Bolsonaro?
5. Se
Raquel reconhece que já votou em Lula em duas eleições e em Dilma e reconhece
os avanços de seus governos, o que a impede de apoiar Lula em defesa da
democracia tão ameaçada?
6. Raquel
Lira e Priscila Krause acreditam mesmo que para resolver os problemas cruciais
e estruturais basta ter vontade e capacidade administrativa?
Eu
sou servidora pública e gestora municipal e tenho convicção de que suas
propostas são bravatas e Raquel Lira e Priscila Krause também sabem que são!!
A Emenda Constituição 95, aprovada com o apoio
do PSDB, do DEM, e dos partidos de Raquel e Priscila e dos partidos do Miguel
Coelho, Clarissa Tercio e dos Collins, conhecida como Teto de Gastos, tem
impactado na redução dos investimentos na educação, saúde e seguridade social,
não permitindo que nenhuma candidata se exima de declarar de que lado está pela
obvia constatação que a política do (des)governo de Bolsonaro afeta,
sobremaneira, a vida das mulheres, em especial as pretas, a grande maioria do
exército de desempregados e desalentados.
É
com essa preocupação, companheiras, que chamo a atenção para a nossa
responsabilidade como maioria do eleitorado para não somente elegermos Lula
presidente como também elegermos Marília Arraes governadora de Pernambuco para
derrotarmos o projeto político da velha Arena, do PFL, DEM e da elite
pernambucana afastada do poder político da gestão municipal e estadual há duas
décadas e alojados, hoje, no projeto político da candidatura de Raquel Lira.
Essas forças políticas virão com toda força e voracidade nas eleições de 2024
pois sabemos que o resultado das eleições de 2022 constituirá uma nova rearrumação
política no nosso Estado.
*Socióloga, dirigente municipal do PCdoB no Recife
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