05 setembro 2007

Nossso artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (ex-Blog do JC)

Desafios de uma economia claudicante

O fenômeno é mundial e está relacionado com a modernização do sistema produtivo, via aporte de novas tecnologias, e a ampliação sem limites das relações de troca, ou seja, do comércio de mercadorias e da intermediação e registro das transações.

Estamos falando da tendência ascendente do setor de serviços, sobrepondo-se, em termos relativos, à produção industrial.

No Brasil isso também ocorre, conforme estudo divulgado segunda-feira última pelo BNDES. Vejamos alguns dados.

A participação da indústria no emprego formal gerado no país entre 1995 e 2005 decresceu, enquanto a do comércio teve expressivo aumento. Em 1995, havia 23,8 milhões de trabalhadores formalmente empregados no país. Em 2005, esse quantitativo tinha aumentado para 33,2 milhões, com um ingresso líquido de 9,4 milhões nesse período, com taxa de crescimento do emprego formal de 3,4% ao ano. Uma taxa de crescimento maior do que a variação média anual do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período, de 2,4%.

Entretanto, a ampliação de postos de trabalho ocorreu, no período, de maneira claudicante. De 1996 a 1999, o crescimento foi de 1,3% ao ano, com criação líquida de cerca de 300 mil empregos por ano. Entre 2000 e 2005, o aumento anual chegou a 4,9%, ou seja, mais de 1,37 milhão de empregos por ano. E, no caso específico da indústria de transformação, foram perdidos entre 1996 e 1999 cerca de 300 mil postos de trabalho, uma média de 75 mil por ano. Já de 2000 e 2005, porém, verificou-se a criação líquida de 1,5 milhão de postos na indústria, ou 300 mil a cada ano.

Tudo bem. Sinal de reaquecimento da economia. Acontece, no entanto, que essa ampliação de postos de trabalho entre 2000 e 2005 se deu concomitantemente com uma acentuada queda na participação da indústria de transformação no total do emprego gerado no país, de 20,8% em 1996 para 18,4% em 1999, indo a 18,5% em 2005. Diferentemente, o comércio elevou sua participação no emprego geral de 14,2% em 1995 para 18,1% em 2005.

Fenômeno mundial, sim. Mas cabe anotar três “detalhes” importantes.

Um: as taxas de emprego ainda são muito baixas tendo em conta a demanda geral existente no país – e isso reflete as quase três décadas perdidas de nossa economia.

Dois: a relação entre indústria versus serviços ocorre num contexto ainda atrasado, comparando-se o Brasil aos países que de um modo ou de outro têm revelado grau de competitividade industrial bem maior, entre os quais os chamados tigres asiáticos – o que reflete uma produção própria de tecnologia e de recursos humanos ainda deficiente.

Três: se quisermos vencer o tempo perdido, teremos que livrar a economia dos atuais entraves macroeconômicos, acelerar o aporte de tecnologia inovadora e investir pesado em mão de obra qualificada.

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