Sob a fronde
Tarde. Lento momento sob a fronde
por onde passo olhando as sombras, e onde
se suspendem as horas. Tenso, denso,
o tempo pousa sobre as folhas. Penso
no encanto dessa paz obscura e inglória
que paira sobre os ramos sem memória,
e dura nelas como sombra ociosa,
como vaga umidade penumbrosa,
que é também a que sinto. E quase invento
um nome para o peso do momento
em que o nível da tarde desce, e passo
mais devagar, atento a este compasso:
o tempo adere aos ramos. Vejo então,
ao contemplar as réstias sobre o chão,
que a paz é um corte sobre o tempo, um corte
dado entre linhas lívidas da morte
e os fluxos do viver, que se entretecem
de folhas e refolhos. Entretanto,
digo estas coisas em razão do canto
e por saber que as coisas acontecem.
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