Duas visões contraditórias e uma aposta nova
Luciano Siqueira
A crise atual, originada nos EUA e que se espraia mundo afora – mais um episódio cíclico próprio do sistema capitalista, diria Karl Marx -, desta vez parece encontrar uma realidade nova: a possibilidade de resistência de países periféricos emergentes, entre os quais o Brasil.
Já tem um ano essa crise. Agora, com o desmoronamento de bancos e grandes empresas multinacionais, enfrenta um momento de agudização. Até onde vai e que conseqüências terá ainda não se pode prever com exatidão.
E o Brasil, como fica?
Tudo indica que está em certa medida preparado para o terremoto. Mas que deve ser afetado, não cabe dúvidas. Mas não há consenso sobre o tamanho do impacto sobre a nossa economia.
Segundo pesquisa realizada pela CNI, o empresariado brasileiro – certamente apoiado em conjecturas de suas assessorias técnicas – se mostram abalados e descrentes. O nível de confiança no desempenho da economia despenca ao mais baixo índice desde julho de 2005, conforme divulgou ontem a CNI (Confederação Nacional da Indústria): 52,5 pontos, uma queda de 5,6 pontos em relação à sondagem de julho e de 7,9 pontos na comparação com outubro do ano passado.
Os empresários se ressentem da dificuldade em negociar preços com fornecedores e clientes por conta da alta do dólar, da escassez de crédito, do aumento das taxas de juros e do quadro recessivo mundial.
No outro extremo se posiciona o ministro Guido Mantega, da Fazenda, que falou ontem no Congresso Nacional. Ele avalia que o crescimento da economia não atingirá nível esperado pelo governo para 2008, de 5% ao ano, porém espera que o PIB atinja entre 4% e 4,5%. E resume as razões para tanto otimismo: o país hoje tem condição manter o atual ciclo de crescimento com a manutenção da expansão do crédito, investimentos em infra-estrutura e continuação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, a pesquisa mensal de comércio mostra crescimento de 9,8%; estão sendo criados mais de 2 milhões de empregos formais, o que implica mais renda e mais consumo; a arrecadação da Receita Federal se mantém dentro do esperado.
Desencontro de expectativas à parte, vale anotar que é a primeira vez em décadas que o governo reage diante de ameaças de instabilidade e retração da economia com investimentos públicos em infra-estrutura, expansão do crédito, incremento da produção e alargamento do mercado interno. Uma aposta nas próprias forças, digamos, em contraposição à receita clássica da submissão aos ditames de fora.
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