Calma, que o santo é de barro
Luciano Siqueira
Passada a guerra, é a hora de avaliar resultados e prospectar o futuro mediato, as eleições gerais de 2010.
Dentre as resultantes do pleito recém-encerrado chama a atenção o PMDB. Por dois motivos: pelo número de municípios conquistados, que o coloca no pódio, à frente dos demais concorrentes e pela importância de cidades onde elegeu o prefeito, a exemplo do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador; e pela aura de “primeiro aliado” de Lula que a imprensa passou a lhe atribuir desde o último domingo.
Segundo as análises que pontificam na mídia, somando-se os resultados da disputa municipal com o tamanho das bancadas no Senado e na Câmara e mais os governadores filiados, é prego batido, ponta virada: Lula só continua governando se o PMDB quiser e o PT só elege o novo presidente se colocar um peemedebista de vice.
Isto posto, restaria aos demais partidos acompanhar o fato à distância regulamentar que cabe aos meros coadjuvantes.
Vamos com calma, gente, que o PMDB é de barro.
É verdade que essa grande agremiação centrista tem força e que se mantém no imaginário popular com a boa imagem conquistada na resistência à ditadura militar; e que por meio de prefeitos e vereadores espalhados por todo o país, ostenta uma capilaridade que os demais partidos não têm.
Mas é igualmente verdadeiro que o PMDB não tem comando único, uno e coeso; que pelo Brasil afora se fragmenta em centenas de grupos locais e que em cada estado segue uma orientação própria. Por isso não tem força para disputar com candidato próprio a presidência da República – Ulysses Guimarães tentou em 1989 e obteve votação pífia. A maioria do partido preferiu Collor ou um dos outros candidatos, movida por interesses regionais.
Aliás, desde que as eleições diretas para presidente foram restabelecidas, em 1989, jamais o PMDB adotou posição unitária. Inclusive nas duas últimas, quando Lula se elegeu.
O PMDB é um espécime emblemático da tradição brasileira de partidos mosaico, meros aglomerados de grupos regionais (uma das poucas exceções é o PCdoB, que se mantém nacionalmente uno). E como tal enfrenta, e continuará enfrentando, enormes dificuldades em traduzir o seu quantitativo de votos em força efetiva tendo em mira objetivos nacionais. Daí porque é muito precipitado ungi-lo como principal aliado do PT e parceiro irrecusável para a chapa de 2010.
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