Brasil & China: uma parceria benéfica, mas assimétrica
Luciano Siqueira
Estou entre os que comemoram os bons resultados da política externa do governo Lula, particularmente no que se refere à ampliação de relações diplomáticas e comerciais privilegiadas com países emergentes e de médio porte em contraposição à dependência de mercados como EUA e Europa Ocidental. O comércio bilateral com a China é, nesse sentido, uma conquista.
Conquista para o proveito mútuo e também para o incremento de uma tendência a uma nova ordem mundial, multipolar, como superação à hegemonia absoluta dos EUA. Brasil e China têm um papel destacado nesse processo.
O fato é que nos anos recentes tem crescido significativamente as transações entre os dois países, com vantagem para economia brasileira. Inclusive agora, nos primeiros quatro meses deste ano, em plena crise global, quando as nossas exportações para a China cresceram em 65% ao mesmo período do ano passado. A China já é nosso maior parceiro, suplantando os EUA que ocupavam esse posto desde a década de 30.
Mas a vantagem brasileira nas trocas com a China é, digamos, eminentemente quantitativa. Isto porque nas exportações da China para o Brasil predominam produtos industriais, enquanto nossas exportações são basicamente de matérias primas minerais e agrícolas.
Bom, que assim seja enquanto não se pode mudar. E o que deve mudar é precisamente o padrão de desenvolvimento econômico brasileiro que, apesar da respeitável base técnica construída, ainda nos confere o status de economia de porte médio se considerarmos a pauta de exportações como indicador. Ainda é relativamente pequena a presença de produtos de valor agregado no que vendemos para fora.
Esse há de ser um ponto destacado de um novo projeto nacional de desenvolvimento, que fortaleça o Brasil como nação forte, influente e soberana e agregue robustez à sua economia. Por enquanto, permanecemos vulneráveis e sujeitos a desvantagens.
Ainda tendo o intercâmbio com a China como referência, há de se notar que a esperteza e capacidade empreendedora dos chineses pode nos deslocar de importantes nichos do mercado internacional. O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, em artigo recente, dá como exemplo disso o fato de dispormos de excelente couro verde bovino; a China (Hong Kong) e a Itália serem grandes importadores desta matéria prima; e os chineses frabicarem sapatos de couro brasileiro e competindo com calçados brasileiros, com vantagem, no mercado americano.
Portanto, trata-se de relações mutuamente benéficas, é verdade; mas ainda assimétricas devido às disparidades entre as duas economias. http://www.lucianosiqueira.com.br/ http://twitter.com/lucianoPCdoB
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