A aliança do príncipe
Luciano Siqueira
Certa vez, condenado a repouso forçado por haver fraturado o pé, um amigo a quem fui visitar em sua residência me recebeu com o controle remoto à mão e o olhar enfadado diante da TV: - Meu amigo, a Humanidade não tem mais jeito, nós é que somos teimosos e queremos mudar o mundo. Passo o dia aqui de canal em canal e só tem notícia ruim: calamidades naturais, corrupção, morte...
De fato. O mesmo a gente vê naqueles monitores que botam em elevador de edifício comercial. Eu mesmo me divirto (se é que se pode chamar a isso diversão) contando as noticias negativas nos poucos minutos entre a portaria e o andar aonde vou.
O danado é que se poderia pelo menos equilibrar o noticiário, informando também das coisas boas da vida, exemplos edificantes de dedicação ao bem comum, conquistas notáveis da ciência e da sociedade humana. Mas parece que quem edita os noticiários é orientado para mostrar o lado ruim de nossa existência, como que nos obrigando a experimentar ainda em vida o purgatório. Virgem Maria!
Mas tem outro lado – este, infelizmente, também nada acrescenta: o das frivolidades envolvendo famosos ou candidatos a tal. Agora mesmo ao navegar em busca das últimas notícias deparo-me com a manchete que dá conta de que o príncipe William decidiu não usar aliança após o casamento com a plebeia Kate Middleton, em 29 de abril próximo. Perplexo, sinto-me o mais ignorante dos internautas por desconhecer o impacto dessa decisão íntima do herdeiro da Coroa Britânica para o presente e o futuro da Humanidade – que deve ser enorme, a julgar pelo destaque dado à notícia.
Tem mais. A noiva irá usar um anel de ouro dado pela rainha Elizabeth 2ª. Portanto, além do coração do príncipe encantado, a senhorita Kate, vê-se, conquistou as boas graças da rainha.
Supõem os repórteres que “durante a cerimônia de casamento, William irá colocar a aliança no dedo da noiva, mas ela não fará o mesmo com ele”. Claro, se ele dispensa a aliança - conclusão genial, não é mesmo?
Finda a leitura, experimentei um quê de ciúmes do príncipe e de sua amada. É que colei grau em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco com um anel emprestado pelo colega e amigo Beilton, simplesmente porque não tinha grana para adquirir um – e ninguém ficou sabendo, sequer na rádio comunitária de Água Fria, meu bairro à época, saiu a notícia! A cerimônia se deu no Ginásio de Esportes da Imbiribeira, minha mãe colocou o anel no meu dedo, o fotógrafo registrou o flagrante e vapt vupt guardei o dito cujo no bolso do paletó (também emprestado), com receio de perder a preciosa joia.
Mas inspirado no sábio Epaminondas, que sempre aconselhou não se guardar ciúmes de nada, muito menos de príncipe britânico, recompus-me incontinenti: afinal entre a recusa do príncipe à aliança matrimonial e a minha impossibilidade de obter o anel de formatura há uma distância transatlântica, que separa a família real britânica de um simples plebeu brasileiro.
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