05 abril 2011

A prosa poética de Vic


Elogio ao som
Virgínia Barros, em seu blog Entre tantos loucos e livres

Nos anos em que morei no outro quarto, ele repousava cuidadosamente na mesinha embaixo da TV, que também não funcionava. A televisão havia pertencido anos atrás à minha bisavó Maria Quitéria e exibia na tela lembranças da época em que, quando brincar no mato não me era permitido, eu gastava os domingos com tele transmissões e conversas de amenidades no velho casarão do Sítio Barreiras.

Do pequeno aparelho de som, entretanto, eu guardo lembranças acachapantes. Ainda na infância, ganhei-o de presente de minha Tia Dêda no Natal de 1997 e o deixava em cima do baú da cama de visitas, embaixo da janela do meu quarto. No interior, amigo, é comum termos camas além do necessário, para abrigar os amigos e parentes que enchem a casa de alegria e movimento.

Lembro que desde meus primeiros anos Titi costumava ligar o rádio enquanto arrumava a casa, mas, com o passar do tempo, as ondas da Marano FM e da Rádio Sete Colinas já não me apeteciam mais. No meu pequeno aparelho de som, entretanto, a antena captava uma rádio pop de Maceió que fez de mim a única menina da turma que gostava de rock and roll. Os versos de Nirvana, R.E.M., Radiohead e Los Hermanos marcaram sobremaneira minha adolescência.

Agora em quarto novo, guardo mais uma vez o pequeno aparelho branco e preto aposentado para me relembrar os acordes que embalaram grandes momentos de minha vida. Imponente, repousa ao lado da nova televisão que, embora trabalhe, não tem em si o charme nostálgico daqueles anos incríveis. É que sou um ser de saudades, camarada.

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