06 outubro 2013

Uma crônica minha para descontrair

Unidos pelo entulho
Luciano Siqueira

 
Alguém já disse - na verdade, milhares de pessoas dizem isso - que a rivalidade entre times brasileiros de futebol enseja mais amor, alegria, revolta, ódio e tristeza do que uma guerra entre dois países. Muito além do racional. Pura e cega emoção. Fanatismo.

Silvio Guimarães, meu colega de turma na antiga Faculdade de Medicina da UFPE, quando presidia o Sport Clube do Recife, não faz muito tempo, teve seu gabinete invadido por um velho amigo que lhe atirou ao peito a carteira de sócio rubro-negro, semi-destruída, e aos gritos protestou porque um patrocinador do clube havia pintado seus anúncios no estádio da Ilha do Retiro em cores vermelho e branco. Ora, isso é coisa de alvirrubro, do arqui-rival Clube Náutico Capibaribe! Inadmissível. Que a logomarca da empresa se transmutasse em vermelho e preto ou não tinha acordo.

Salvo engano meu, o acordo foi feito e mudaram-se as cores da logomarca, pelo menos no estádio do Leão da Ilha. E o sócio continuou sócio.

Também ouvi falar que um corintiano apaixonado teria ido às lagrimas porque um filho, vítima de infecção intestinal, teria defecado verde. Como admitir em sua própria família esse absurdo, merda na cor do Palmeiras, jamais!

Mas eis que, dias atrás, vi na TV que boa parte da metralha resultante da demolição do Parque Antarctica, do Palmeiras, serviu como matéria prima na construção da futura arena do Corinthians, em Itaquera, na forma de brita reciclada. Isto sem conhecimento prévio dos diretores dos dois clubes, segundo informa a empresa envolvida no caso.

E agora? Aceitarão os corintianos esse supremo sacrilégio, que os fará pisar no solo sagrado de sua própria arena sabendo que nos alicerces há material outrora pertencente ao Palestra Itália? Pelo andar da carruagem, quer dizer, da construção, já não há mais o que fazer. A obra já tem pouco mais de 90% realizada. Termina em dezembro. 

Bobagem! - diz o amigo Epaminondas, com quem comento o assunto, ele próprio americano fanático, incapaz da menor concessão ao adversário ABC, nas pelejas norte-rio-grandenses. – Torcedor tem jeito pra tudo, amigo. Pois a turma do timão, em São Paulo, pode dizer que, nas arquibancadas, pulará sobre farelos de concreto alviverdes. Com força e com ódio.

Talvez sim. Em matéria de futebol, mais ainda de confronto entre torcidas enfezadas, todo argumento é válido, a mais grotesca sublimação assume ares de tese fundamentada, racional e correta.

Aqui mesmo na heróica terra do Frei Caneca, o Santa Cruz amarga há alguns anos a terceira divisão do futebol brasileiro. Suprema humilhação para a grande nação tricolor, campeã de público nos estádios, vencendo até para os grandes times do Rio e de São Paulo.

Errado. A nação tricolor torce sim para voltar à chamada divisão de elite do futebol nacional, mas enquanto isso comemora três títulos consecutivos no campeonato estadual. E ainda tripudia sobre torcedores do Sport e do Náutico: no século 21, só o santinha conseguiu ser tricampeão. E estamos conversados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei.

Abraços,

Kleiton
kleitongoncalves.blogspot.com.br

Anônimo disse...

Adorei.

Abraços,

Kleiton
kleitongoncalves.blogspot.com.br