Luciano Siqueira
Silvio Guimarães, meu colega de turma na antiga
Faculdade de Medicina da UFPE, quando presidia o Sport Clube do Recife, não faz
muito tempo, teve seu gabinete invadido por um velho amigo que lhe atirou ao
peito a carteira de sócio rubro-negro, semi-destruída, e aos gritos protestou
porque um patrocinador do clube havia pintado seus anúncios no estádio da Ilha
do Retiro em cores vermelho e branco. Ora, isso é coisa de alvirrubro, do
arqui-rival Clube Náutico Capibaribe! Inadmissível. Que a logomarca da empresa
se transmutasse em vermelho e preto ou não tinha acordo.
Salvo engano meu, o acordo foi feito e mudaram-se
as cores da logomarca, pelo menos no estádio do Leão da Ilha. E o sócio continuou
sócio.
Também ouvi falar que um corintiano apaixonado
teria ido às lagrimas porque um filho, vítima de infecção intestinal, teria
defecado verde. Como admitir em sua própria família esse absurdo, merda na cor
do Palmeiras, jamais!
Mas eis que, dias atrás, vi na TV que boa parte
da metralha resultante da demolição do Parque Antarctica, do Palmeiras, serviu
como matéria prima na construção da futura arena do Corinthians, em Itaquera,
na forma de brita reciclada. Isto sem conhecimento prévio dos diretores dos
dois clubes, segundo informa a empresa envolvida no caso.
E agora? Aceitarão os corintianos esse supremo
sacrilégio, que os fará pisar no solo sagrado de sua própria arena sabendo que
nos alicerces há material outrora pertencente ao Palestra Itália? Pelo andar da
carruagem, quer dizer, da construção, já não há mais o que fazer. A obra já tem
pouco mais de 90% realizada. Termina em dezembro.
Bobagem! - diz o amigo Epaminondas, com quem
comento o assunto, ele próprio americano fanático, incapaz da menor concessão
ao adversário ABC, nas pelejas norte-rio-grandenses. – Torcedor tem jeito pra
tudo, amigo. Pois a turma do timão, em São Paulo, pode dizer que, nas
arquibancadas, pulará sobre farelos de concreto alviverdes. Com força e com
ódio.
Talvez sim. Em matéria de futebol, mais ainda de
confronto entre torcidas enfezadas, todo argumento é válido, a mais grotesca
sublimação assume ares de tese fundamentada, racional e correta.
Aqui mesmo na heróica terra do Frei Caneca, o Santa
Cruz amarga há alguns anos a terceira divisão do futebol brasileiro. Suprema
humilhação para a grande nação tricolor, campeã de público nos estádios,
vencendo até para os grandes times do Rio e de São Paulo.
Errado. A nação tricolor torce sim para voltar à chamada
divisão de elite do futebol nacional, mas enquanto isso comemora três títulos
consecutivos no campeonato estadual. E ainda tripudia sobre torcedores do Sport
e do Náutico: no século 21, só o santinha conseguiu ser tricampeão. E estamos
conversados.
2 comentários:
Adorei.
Abraços,
Kleiton
kleitongoncalves.blogspot.com.br
Adorei.
Abraços,
Kleiton
kleitongoncalves.blogspot.com.br
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