Goya
Meus diletos desafetosLuciano Siqueira
Tem gente que não gosta da gente e o motivo só Deus sabe. Má associação com algo ou alguém que lhe infelicitou? Rejeição política e ideológica? Antipatia gratuita?
Simpatia, qualquer motivo vale. Sei de gente - muita gente, posso assegurar - que experimenta alguma forma de carinho por mim por um motivo trivial: o tipo físico. Sobretudo meu rosto algo feioso, ossos salientes, queixo ligeiramente acentuado, cabelos em desalinho... um tipo comum. Daí me parecer com muita gente comum.
Uma companheira de Partido costuma me chamar "painho" porque, segundo diz, sou o sósia perfeito do seu genitor. Casos semelhantes registro vários.
Certa vez, ao desembarcar no Aeroporto dos Guararapes, fui abordado por uma senhora que se fazia acompanhar de filhos adultos, que me perguntou se sou quem sou e, obtendo a confirmação, abraçou-me em pranto. Chorou copiosamente em meu ombro e, minutos após, ao se recompor, justificou-se: "O senhor é a cópia do meu falecido marido. Quando lhe vejo na TV ou em fotos de jornal, choro. A saudade é muito grande!"
No outro extremo, tem me chamado atenção um tipo de desafeto muito peculiar. Sexo masculino, atento aos meus escritos, disciplinado, ler meus artigos e crônicas com fidelidade religiosa. São vários, fundamentalistas!
Pouco importa se escrevo sobre economia, gestão pública, arte, futebol - seja na forma de artigo ou crônica -, estão sempre ali, vigilantes, agressivos, implacáveis. E, para mim, muito divertidos.
Daí considerá-los diletos desafetos. Porque, se me atacam com comentários depreciativos, de agressividade ímpar e em tom preconceituoso e rasteiro; também me proporcionam o prazer de ler o que escrevem.
Na verdade, imagino que gostariam de me pautar ou, quem sabe, polemizar sobre os temas abordados. Mas lhes falta estofo. Tanto que se protegem por trás de pseudônimos - e quem assim procede jamais terá coragem cívica e competência para debater questões realmente substantivas.
Divirto-me, sim; porque algumas diatribes são mesmo risíveis. Expressões como "comunista de m...", "político de segunda categoria", "misturador de palavras" se ajuntam a sentenças tais como "militante que ficou gagá", esta a propósito de um artigo sobre as conquistas sociais alcançadas na última década, sob os governos Lula e Dilma. Ou: "quem é esse cara para falar de poesia!?" ou "a ditadura militar acabou e só ele não sabe".
Quanto aos pseudônimos, há que se reconhecer criativos. Alegóricos, eclesiásticos, monárquicos ou simplesmente comuns, monossilábicos.
Não alimento a
presunção de contar com muitos leitores, embora escreva semanalmente para
vários sites e esporadicamente para outros tantos. Mas posso ter a certeza de
que sou lido por essa pequena legião de desafetos. Aos quais agradeço sensibilizado.
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