29 janeiro 2014

Contas sem controle

Seríamos todos imediatistas e perdulários? 
Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Longe de mim a pretensão de apontar as reais causas do problema – tarefa para especialistas -, mas não me furto a dar meu palpite.

O fato é que, segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a turma que vai às compras gasta mais do que ganha, não tem o hábito de poupar e muito menos de planejar o futuro. Inclusive por falta de informação: oito em cada dez entrevistados (81%) têm pouco ou nenhum conhecimento sobre como fazer o controle das despesas pessoais. E apenas 18% têm algum controle sobre o seu orçamento pessoal.

A coisa é séria. Essa constatação se deu em todas as capitais brasileiras e em praticamente todos os segmentos sociais. Assim, dos que têm renda domiciliar de até R$ 1.330, o domínio das finanças pessoais é de 16%. Dos que ganham entre R$ 1.331 e R$ 3.140, apenas 15% controlam suas próprias contas e assim por diante.  Predomina mesmo é o "controle" de memória, sem sequer lançar mão de um caderninho de anotações.

Há mais detalhes analisados pelos pesquisadores. O mau uso do cheque especial e do cartão de crédito, inclusive. Deu vontade, compra - e as consequências ficam literalmente para depois, seja o que Deus quiser.

O que não vi foi qualquer consideração acerca dos fatores que levam ao impulso da compra, obviamente relacionados com a carga imensa de propaganda diária a que todos nós temos acesso e por ela afetados. Na TV, no rádio, em outdoors, panfletos, cartazes em ônibus e no metrô, além do eficiente e sofisticado merchandising em telenovelas. Para onde você olha, algum anúncio lhe oferta algo que é de todos o melhor e que você deve comprar, mesmo que não necessite.

Pudera. Marcas de cigarro ou de refrigerante são associadas a barcos a vela, jatos particulares, mulheres e homens bonitos e paisagens paradisíacas. Ora, se você não em nada disso na vida real, pelo menos pode experimentar uma ilusória sensação de posse comprando aquela goma de mascar ou uma blusa de conhecida grife.

Além disso, certamente especialistas em comportamento, cientistas sociais e congêneres têm mais o que nos dizer sobre o fenômeno. E não será surpresa se aparecer uma dissertação de mestrado demonstrando que esse gosto pelo consumo terá começado com a troca de espelhos e bugigangas entre Cabral e seus companheiros de aventura e nossos indígenas, desde o descobrimento do Brasil.

Assim, tocando a vida a base de uma boa improvisação e muito sonho, teríamos nos convertido num povo imediatista e perdulário. O que estaria sendo confirmado agora que, nos últimos dez anos, cerca de quarenta milhões de brasileiros foram incorporados com sistema produtivo de bens e serviços e ao mercado consumidor. Será?

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