O debate da Band e outros debates
Luciano Siqueira
Um momento privilegiado da democracia, como costumam afirmar
os candidatos participantes de debates, como o da Band, terça-feira última? Nem
tanto, porque o formato que adotam serve para muitas coisas, menos para a clara
explicitação do conteúdo dos programas de governo – o cerne da diferenciação
entre os diversos postulantes.
Nem os debates, tampouco as entrevistas ao modelo do Jornal
Nacional. Repórteres se esmeram na tentativa de constranger os entrevistados
com perguntas supostamente embaraçosas, periféricas em relação ao que cada um pensa
sobre o País e o que propõe para enfrentar as questões cruciais do seu atual
estágio de desenvolvimento. No caso da Rede Globo, permeia todas as entrevistas
o falso pressuposto de que todos – candidatos, partidos, apoiadores mais
próximos – estão de algum modo envolvidos com a corrupção ou, no mínimo, são
coniventes.
Daí porque, em relação aos debates televisivos, diz-se que,
do ponto de vista de cada candidato, o importante é não perder – ou seja, não
cair em nenhuma casca de banana ou responder mal a uma provocação. Ganhar é não
perder. E pronunciar, se possível, uma frase de efeito, ou algo parecido, que
sirva como destaque no noticiário do dia seguinte. Isto porque, mais importante
até do que o debate em si, é a exploração dele no noticiário ou as versões
veiculadas nas redes sociais.
Demais, há estudos que atestam a ineficácia desses debates
como fator de alteração significativa no comportamento do eleitor. Seja bela
baixa audiência, seja mesmo porque pouco ou nada esclarecem.
Pior: de certo modo o formato e o conteúdo dos debates
televisivos – além do da Band vêm aí outros, inclusive o da autoproclamada
Venus Platinada – refletem a superficialidade das ideias disseminadas na
campanha eleitoral. A questão nodal da eleição presidencial – o confronto entre
projetos nacionais diametralmente opostos – é tangenciada.
Ainda bem que há as redes sociais e blogs, apesar do
tiroteio entre adeptos das principais candidaturas. O fato é que,
distinguindo-se o joio e o trigo, na internet flui um bom debate, este sim, em
que argumentos e dados possibilitam a identificação do conteúdo essencial dos
projetos encarnados por Dilma e Aécio, e mesmo Marina, apesar da brutal
tergiversação que a “sonhática pratica”, em nome de uma suposta terceira via,
capaz de conduzir o País apoiada nos “bons” de cada partido, escoimando-se da
gestão os “maus” – num maniqueísmo de fachada que rebaixa o nível da discussão
e desinforma o eleitor.
Há, de toda sorte, milhares de internautas e blogueiros
capazes de tomar partido e de trazerem à superfície a diferenciação tão
necessária ao caráter efetivamente democrático da peleja eleitoral. Que cumpram
o seu papel. (Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br)
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