O sapo ladino
Aldo
Rebelo, no portal Vermelho
No seu
livro Viagem de um naturalista ao redor do mundo, o cientista Charles Darwin
conta como ficou impressionado com um pequeno sapo, de cores esquisitas, que
encontrou numa região tórrida do Uruguai, em 1832. Sem água nem comida, o
bichinho pulava na areia quente, não “por boniteza mas porém por precisão”,
como diria Guimarães Rosa.
Com pena, o naturalista jogou-o
num charco e imediatamente salvou-o de morrer afogado, pois o anfíbio não sabia
nadar. E concluiu que, se não tinha um nome popular, deveria chamar-se
“Diabolicus, pois é um sapo digno de falar com Eva.”
No Brasil também existe um sapo
comparável à serpente do Éden, “o mais astuto de todos os animais da terra que
o Senhor Deus tinha feito” (Gênesis 3:1). É a espécie Pleurodema diplolistris.
Nas áreas úmidas, mora na beira da lagoa, mas na Caatinga intriga os cientistas
pela engenhosidade de enterrar-se no solo árido, até a profundidade de 1,80m,
para aguardar a chuva que demora meses. Se o esquilo siberiano hiberna no frio,
o sapo sertanejo estiva no calor.
Quando a água do céu ressuscita
a Caatinga, “e o sertão é um paraíso” na eloquente descrição de Euclides da
Cunha, “reverdecem os angicos” e “lourejam os juás”, o sapo ardiloso emerge à
superfície, cantando, faceiro, para desfrutar a explosão da vida como se
virasse príncipe – e acasalar. Seus filhos, os girinos, desenvolvem-se em poças
d´água a tempo de também submergirem.
Muitos animais têm truques para
sobreviver ao ambiente e a predadores. Outras espécies de batráquios do mundo
igualmente se enfiam no subsolo, e ficam dormentes. Mas a do Brasil
movimenta-se o tempo todo, de olhos abertos, farejando água. O que come, se
come, ainda é um mistério.
Cientistas estão estudando o
fenômeno. A pesquisa mostra como a Ciência pode ser fascinante, e provavelmente
resultará em descoberta útil para o ser humano ao desvendar o complexo de tatu
e a adaptação fisiológica do sapo ladino.
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