Condenar o terrorismo e o imperialismo que fomenta sua ação
Editorial do Vermelho
O bárbaro ataque que ocorreu em Paris na sexta-feira (13) foi um
condenável ato de guerra. Seu alvo visível foi a população civil da capital
francesa, mas o objetivo real era atingir as potências ocidentais que agem, há
décadas, no Oriente Médio e são responsáveis pela forte instabilidade que lá
existe.
Ao contrário do que dizem muitos comentaristas na imprensa hegemônica,
as razões de um ataque dessa natureza não são religiosas nem estão localizadas
naquilo que alguns chamam de conflito de civilizações. Os motivos reais são
geopolíticos, ou guerreiros.
O ataque, promovido pelo chamado Estado Islâmico, feriu centenas de
pessoas e assassinou mais de 120 civis inocentes. A ação revelou uma insuspeita
capacidade de organização que envolve planejamento, logística e acesso a
recursos. Capacidades que resultam do treinamento, intenso apoio financeiro e
material dado pelos países imperialistas a grupos de oposição ao presidente
sírio Bashar al-Assad. Apoio que resultou, ao fim, na unificação de muitos
desses grupos fundamentalistas no chamado Estado Islâmico.
Formações guerreiras como o Estado Islâmico resultaram do apoio dado a
milícias radicais islamitas desde os tempos em que o imperialismo reagiu contra
o regime democrático do Afeganistão no final da década de 1970, que tinha o
apoio da União Soviética. Contra eles, os países imperialistas – sobretudo os
EUA – apoiaram, treinaram, armaram e financiaram aqueles que se chamavam então
de mujahidin (“guerreiros de deus”), hoje comumente chamados de jihadistas.
Foram instrumento da ação do imperialismo (EUA, Grã-Bretanha e França,
principalmente) contra os democratas, nacionalistas e os socialistas na região.
Aquelas milícias se desdobraram, nas décadas seguintes, em inúmeras outras
facções, com destaque para a chamada Al-Qaeda e o Estado Islâmico.
O ato de guerra cometido contra o povo francês, nesta sexta-feira (13),
só pode ser compreendido dentro desta lógica guerreira, sendo uma reação
visível contra ela, com disfarce religioso. É uma lógica que se acentuou desde
a chamada “primavera árabe” (2011) que teve como resultado trágico a destruição
da Líbia como nação organizada pela ação das tropas capitaneadas pela Otan. E
também o início da guerra civil na Síria, cuja capacidade de resistência foi
maior, apesar do enorme custo material e humano imposto pela intervenção
imperialista.
O ataque bárbaro ocorrido em Paris é mais um episódio sangrento desta
guerra. Semelhante a inúmeros outros – quase diários – que ocorrem em cidades
do Oriente Médio onde têm acontecido ataques “por engano” a hospitais, escolas,
cidades, alvos civis que, pela legislação internacional, deveriam estar a salvo
de ataques militares.
O ato terrorista desta sexta-feira revela a falência, e o fracasso, da
política antiterrorista dos países imperialistas contra o terrorismo que suas
próprias ações guerreiras fomentam.
O caminho para a construção da paz é pavimentado por ações pacíficas, de
respeito à autonomia dos povos e à soberania de suas nações.
O sangue que correu foi o de pessoas comuns, inocentes, causando
consternação, solidariedade e revolta pelo mundo a fora. O alvo da indignação
deve ser os responsáveis pela ação terrorista e também os países imperialistas
que criaram as condições objetivas para a existência dessas forças que agem contra
a humanidade.
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