Ano perdido
Marcos Coimbra, Carta
Capital
Digamos ser verdadeira a opinião de que a crise
econômica brasileira é política. Ou em formulação um pouco mais refinada: sua
origem estaria na política e não na economia.
Não é algo incontroverso, mas são tantos os que
concordam com a ideia que ela deixou de ser polêmica. A maioria dos analistas
econômicos, o mercado, a mídia internacional e a “grande” imprensa local a
repetem diariamente. Sem falar na oposição partidária, cujos expoentes a
defendem com unhas e dentes. São eles que mais insistem na tese de que, de
forma simplificada, se Dilma Rousseff fosse removida, por bem ou por mal, do
cargo para o qual foi eleita, os problemas econômicos do País se resolveriam.
Ou, no mínimo, seriam substancialmente menos graves.
Se acreditarmos nesse argumento, dele decorrem duas
consequências lógicas. Primeira: não teriam sido eventuais erros na política
econômica do primeiro governo Dilma nem as medidas que tomou desde o início do
segundo mandato as razões maiores das dificuldades presentes. Ao dizer que “a
crise é política”, perdemos a condição de responsabilizar a economia, incluída
a forma de administrá-la.
Quem sustenta a tese presume que as causas
fundamentais da crise estão na má gestão política: atritos com as principais
lideranças do Congresso e do Judiciário, incapacidade de formar maiorias
estáveis na Câmara e no Senado, falta de diálogo com as oposições e ausência de
interlocução com movimentos sociais, entre outras. Aí estariam os verdadeiros
entraves que impedem a solução dos problemas atuais.
A segunda consequência é menos óbvia. Se a origem
da crise fosse primordialmente a incompetência da gestão econômica, seria fácil
e até natural inculpar o governo. É dele a obrigação de evitá-la. Mas, se acharmos
que a “crise é política”, as culpas teriam de ser repartidas.
É possível a um governo fabricar sozinho uma crise
econômica, apenas com seus próprios equívocos. Mas não uma crise política. Para
se defrontar com uma, exige-se a ação da oposição. Sem ela, mesmo que sejam
graves, a incompetência e a incapacidade de ação política não criam
perturbações significativas.
O governo Dilma pode ter errado na gestão econômica
e sido inábil na condução política. Mas não é sua a culpa pela crise política
que o confronta. E, se subscrevermos a tese de que a “crise é política”, não
seria dele a responsabilidade pelas atuais dificuldades econômica. Certamente,
não a responsabilidade exclusiva.
Neste fim de outubro de 2015, essas questões vêm à
mente. Completa-se um ano da vitória de Dilma Rousseff na última eleição, em
meio à mais longa e grave crise política do Brasil moderno, pois as anteriores
foram mais breves (a de Fernando Collor durou três meses) ou mais circunscritas
(Fernando Henrique Cardoso nunca deixou de ser o predileto das elites).
Os 12 meses de instabilidade política são fruto do
inconformismo da oposição partidária, que insiste em não aceitar os resultados
eleitorais. Suas lideranças abdicaram de qualquer papel de pedagogia política e
se deixam conduzir pelo que de mais retrógrado, preconceituoso e burro existe
na sociedade. Para fragilizar o governo, fazem um jogo parlamentar nefasto ao
País. As corporações da “grande” mídia, suas aliadas, criaram e difundiram um
clima de pânico na opinião pública, que levou os brasileiros a expectativas
completamente irracionais a respeito da economia, como mostraram diversas
pesquisas recentes, assim agravando os problemas existentes.
A “crise política” que produziram (e à qual o
governo não conseguiu reagir) está na raiz da crise econômica. E nenhum dos
segmentos da oposição se preocupa com o custo social e humano da estratégia de
seu aprofundamento. Enquanto fazem seu jogo, a população perde renda e emprego,
é forçada a conter projetos e a adiar sonhos.
O pior é que provocaram muito prejuízo à toa. Nem
Dilma vai sair antes da hora do cargo para o qual a maioria da população a
elegeu nem conseguiram sepultar a chance de vitória do PT na próxima eleição.
O saldo deste ano, que nos fizeram perder com seu
impatriotismo, é péssimo, para o Brasil e para as oposições.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário